segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pro agora.

Antes das cerimônias de compromisso, ou das promessas e verbos antecedidos pela terceira pessoa do plural, queria dizer que acima da vontade antiga, entranhada nas idéias mal formadas, de querer ser de alguém e ter alguém com papel passado e presente, estão as coisas que aprendi sobre mim durante o tempo que cresci.
Uma delas é que a solidão sempre foi o melhor remédio para todos os meus mau humores do dia e não tem paixão ou beijo que pague a satisfação que sinto estando só e podendo pensar, ou falar comigo mesma, e que não tem nada a ver com ninguém, porque essas coisas não se mesclam ao amor pelo próximo ou coisa parecida, elas acontecem na vida de uma pessoa assim que ela resolve externar a sua personalidade.
As pessoas sempre me levam para o lado pessoal, porque eu pareço entender o que acontece com elas, ou pareço poder dar o que elas precisam, mas a verdade é que eu preciso prestar atenção por ser uma necessidade minha, porque quando resolvi escrever, pra descobrir o que me incomodava e assim tentar melhorar, a partir dali eu criei um vício de detalhes, porque eu precisava descrever e passar cada sensação que sentia para todos os meus textos pra marcar nas linhas as minhas lembranças pra que quando eu lesse pudesse sentir como se fosse exatamente naquele dia, e tudo isso deu tão certo que eu não sei parar.
Eu tenho tantos vícios... Eu tenho um vício por problemas, por ter uma sede pelas surpresas, eu cavo fundo em alguém para saber se algo naquela pessoa vai me surpreender em algum momento, às vezes acontece, outras não, mas o fato é que eu exploro demais quem eu escolho e isso poderia ser uma honra ou um castigo, cabe a você decidir. Vou confessar que muitas vezes trato as pessoas que finjo gostar, porque eu gosto de gostar de alguém, como bonequinhos, testando a minha previsão com elas, fazendo-as tomarem atitudes que eu queria que elas tomassem, eu descobri que tenho esse poder muitas vezes.
Eu posso ser o que você quiser e muitas vezes sou, isso indica que você não sabe realmente com quem está lidando, porque eu só me apresento de fato para quem me intriga e poucas pessoas conseguem fazer isso. Essas pessoas não sabem que saber quem eu sou, mesmo que de uma forma superficial, é uma prova de amor, isso quer dizer- traduzindo- que quero que elas fiquem pelo tanto de tempo que acharem necessário, que não vou interferir na estadia delas em minha vida- coisa difícil de acontecer, porque tenho a mania de controlar cada passo que dou a favor dos meus planos, eu tenho tantos planos...
Eu não acredito em casório, amado, nem em laços fortes eternos marcados pelo amor por uma pessoa só, a partir do momento que definimos o que temos eu passo a perder a vontade e os dias são contados, e fadados, ao fim. Portanto me ame por amar, pelo simples fato de gostar do meu sorriso e por me querer de manhã ao seu lado, porque se tudo der certo- digo, se me acostumar- eu estarei todas as manhãs sorrindo e lhe dando bom-dia como se deve ser. Não tenho medo de compromissos, acho muito interessante até, a dificuldade em ser fiel e de não deixar a bomba da rotina explodir é intrigante, mas minha personalidade instável não permite que eu entre em algo desse tipo sem machucar alguém, porque certas liberdades pra mim são o ar. Não me leve a mal, não sou libertina, tampouco da vida, mas é que eu descobri uma necessidade de mim tão grande que acaba não sobrando pra outros depois, as vezes me chamo demais, tenho que me obedecer e então acabo indo embora.
Mas nem se incomode, porque tenho tantas besteiras guardadas, um pudor nojento criado pela vergonha, uma vontade de satisfazer alguém por completo que não me deixa fluir, uma preocupação de não superar as expectativas... Eu sou cheia de coisas, meu bem, toda cheia de coisas, sabe esses buracos que as pessoas tentam preencher toda a vida com outras pessoas, achando procurar a metade da laranja e esse blábláblá de Cinderela? Pois então, eu não tenho dessa, eu tenho as minhas coisas que me preenchem, que me cobram atenção e não deixam espaço para as coisas alheias, por isso aprecio tanto o silêncio.
Sem contar as pessoas que trago comigo, por enquanto tenho duas pessoas de outro sexo que preciso ao meu lado- me dou melhor com o sexo oposto- e não posso largá-las, não porque elas precisam de mim, mas porque passei a precisar delas, porque foram as únicas pessoas que souberam respeitar todos os meus poréns, fazendo com que eu me sentisse a vontade, como se estivesse comigo mesma, e acho que você percebeu o quanto gosto da minha presença. E o amor que eu sinto por essas duas pessoas são amores completamente diferentes, mas são amores, e amor não jogamos fora. E tenho planos, meu bem, loucos, porém são meus, quero ter dois filhos com cada um desses, pois acho que meu filhos não teriam melhores pais e por enquanto, amado, é isso...
Repense antes de se atar em mim.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Eu não gosto disso

Eu só sei do que eu não gosto. 
Enquanto todas as pessoas  falavam do que elas gostavam, excluindo pessoas sem conhecer, perdendo oportunidades, eu só perdia meu tempo pensando no que eu não gostava, porque qualquer coisa que ficasse fora da lista do "eu não gosto de..." seria útil. Para a menina de 13 anos era uma ideia fabulosa. Para a menina de 17 um problema.
Eu perdi o foco, o objetivo. Quando você exclui deixa tudo a "Deus dará", é com esperar tudo acontecer, é muito fácil dizer o que é ruim, tanto que virei uma fera em reciclagem de situações.  
Eu não sei o que eu quero, eu não sei do que eu gosto, portanto, não sei pra onde ir! Eu espero tudo chegar pra eu poder dizer se presta ou não, funcionava até o momento de "correr atrás das coisas" chegar e eu ficar em bundas. E agora? Bom... Eu não gosto disso, é a única certeza que eu tenho.
Eu não gosto de gente egoísta, narcisista, que se auto promove, que fala demais, que é inconveniente. Não gosto de esperar, não gosto de ir devagar nas relações, não gosto de fazer contas, nem de me explicar. Mas do que eu gosto?
Eu me acostumo, eu  sou medíocre, eu não tenho mais saco pra lidar comigo e com todas essas insatisfações, mas se eu não tiver, quem vai ter? Eu não gosto disso.
Eu não gosto de ter que ir embora por conta própria, não gosto de tomar as rédeas de decisões importantes, porque não gosto de me arrepender. Não gostei nada de alguém ter feito eu me dar um pé na bunda, porque parecia não ter outra jeito de ficar tudo bem, sendo que essa pessoa só não me queria mais, não gostei.
Do que eu gosto? Do que eu gostei?
Eu lembro de momentos agradáveis, que fui feliz, mas não consigo descrever as coisas, definir, desenvolver uma explicação, fica tudo na memória, e deixar qualquer coisa a mercê da minha memória é certeza de esquecimento. Talvez, por isso, me incomode tanto. Não gosto de esquecer.
Duas coisas que eu gosto: música e pessoas- algumas pessoas somente, do resto eu não gosto.
Eu me agarro nessas pessoas, na memória que tenho delas, até não poder mais, até não gostar mais disso, mas enquanto eu posso me torturo amando cada pedaço do nada que deixaram pra mim. Eu não gosto disso.
Eu corro atrás, eu me desfaço, eu me rendo, eu peço até perdão, se necessário, eu faço de tudo pra ter de volta o que eu quero, porque eu não gosto de sentir que eu poderia ter feito mais.
Ando de carro, porque não gosto de andar no Sol. Não nego favores, porque não gosto de ficar com peso na consciência. Trato as pessoas bem, quando posso, porque não gosto quando elas me tratam mal. Não minto tanto, porque não gosto que mintam pra mim. Eu faço tudo por não gostar de algo e não porque eu gosto.
Eu não gosto disso.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

PORRA!2

O que eu ainda não entendi mesmo é essa vontade que tenho, toda vez quando me sinto agredida por qualquer sentimento, de estampar na cara o que arde aqui por dentro. Ainda não sei se é um pedido saliente de ajuda ou uma espera absurda de alguém para acalmar isso com palavras que me toquem o coração e me sosseguem de vez.
O que quer que seja, ou que poderia ser, não acontece... Nem a ajuda e muito menos palavras “maracujina”, o que me deixa com mais ânsia de gritar e sair correndo pelas ruas divulgando a agonia que é sentir ser a única pessoa no mundo que planejou mais da metade de sua vida antes mesmo de saber que ia viver e descobriu que o cara bacana, com defeitos e tudo mais, nem ele existe, e que não importa o quão legal você seja para pessoa mais chata do mundo, ainda vais ser mais alguém mentindo...
Então... Então nada, não tem então, é isso mesmo e pronto... Agora fico agoniada quando escrevo, parece que escrevo para poder ter a aprovação de alguém e eu não gosto disso, aí minha agonia volta. E eu tenho vontade de gritar para meio mundo que eu não sei escrever, e que se fodam as regências verbais que ninguém sabe, e as pessoas inteligentes que lêem porque gostam, e as pessoas ignorantes que não sabem a diferença de "mais" e "mas" fazendo com que todas as frases adversativas sejam aditivas, pessoas, chega de mais na vida, a gente tem demais, esse é o pecado. Porque se tivesse faltando comida em casa eu duvido, de todo o meu coração, que eu estaria preocupada com uma pessoa que mora em outro estado e diz que me ama. Até porque eu não acreditaria em amor, e não por ser esperta, e, sim, por nunca saber o que seria isso.
Um bom final de vida para vocês e que a esperança nunca morra, porque o mundo precisa de novos habitantes.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Escorrega, Maria

Escorrega, Maria, escorrega por entre as mãos, pelas nuvens, pelas vozes. Escorrega, Maria, porque tricotar o caminho custa demais e deixa eu te falar, quando há custo, há insatisfação. Escorrega, Maria, direto, de longe, porque custa muito abraçar o mundo, eu já falei sobre o custo, então... Escorrega, Maria, porque o Francisco nunca vai dizer o que queres ouvir e muito menos ser o que queres para ti, porque custa a cara ser outro alguém para agradar a quem se ama e quanto ao custo, não é Maria?! Sabemos já...
Escorrega, Maria, para não dar tempo de pensar, a fluídez dos atos sai por menos, a dinâmica da vida é normal, é verdade, mulher, eu não minto muito para ti, sabes disso...
Quer saber, escorrega mesmo, Maria, hoje, mais que nunca, mais que sempre, mais que muita coisa que fizeste na vida, porque é o que o tempo faz e até hoje ninguém soube o segredo do tempo.
Escorrega, Maria, relembra a infância no parquinho, as crianças todas sujas, que seria como se pudesses conhecer cada pessoa do mundo, ninguém deixa de ser uma criança sujinha esperando a vez no "escorrega".

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Prêmio Dardos


"Prêmio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc... que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras.
Para que esse reconhecimento não acabe, pede-se aos homenageados que sigam os seguintes passos:

• Você deve exibir a imagem do selo em seu blog;
• Você deve linkar o blog pelo qual você recebeu a indicação;
• Escolher outros blogs a quem entregar o Prêmio Dardos;
• Avisar os indicados.

Queria agradecer a Nathália, do blog Faíscas de amor, por me premiar (:. Queria premiar os seguintes blogs:
1- O blog do Rennan (que vive trocando de nome)
2- Faíscas de amor
3-Notas de uma mulher Neanderthal
4- Cheiro de flor quando ri
5- Penetra surdamente no reino das palavras


domingo, 21 de novembro de 2010

Para Renan...

Acho meio bobo fazer este tipo de coisa, porque sei que ninguém, além de mim e de ti, lê esse blog.
Queria te agradecer pelo carinho e pela consideração de ler as coisas que eu escrevo, comentar, mesmo que seja apenas para eu retribuir, porque o que eu falo aqui é de todo coração e saber que alguém além de mim entende o que eu digo é uma alegria e tanto.
 Eu poderia apenas ter escrito isso em algum comentário no teu blog, mas agradecimentos não existem pra serem esquecidos, então deixo registrado no meu espaço o apreço que tenho por ti, que apesar de escrever e se expressar milhares de vezes melhor que eu continua vindo aqui deixar a marca registrada. Muito obrigada, mesmo.

o selo *-*
Toda certeza se perdendo, esvaindo, esvoaçando, coração. Eu falo tanto em perder sem nem saber o que é ter, é como o bicho papão, nunca vi, mas imagino ele com ... Não, eu não imagino o bicho papão. Então é como o pudor, eu nunca tive, mas finjo saber como é, quer dizer, as pessoas comentam, não é verdade?
A gente escolhe tanto, coração, revê, distorce, enrola, pensa, escreve, mas tudo acontece do jeito que deve ser, então para que tanta linha nesse caderno? Para que tanta idéia nessa cabeça? Pra que tanta perda e tanto pudor, coração?
A vida leva, o tempo traz, o acaso tira e depois eu percebo que acasos não existem, então a vida leva e lá se foi mais uma caminho que não era meu, mais uma história que deixarei de contar, porque só de lembrar já dói, e lá vem mais outro atalho, mais uma história que eu repasso, porque não era muito para mim, sabe coração? Eu não sei mais se faço o destino ou ele quem me faz, também não sei se destino é homem ou mulher, talvez nem sexo tenha para poder ser imparcial...
Oh coração, a gente conversa, desconversa, desanda, personifica e nada muda, porque quem continua falando sou eu, quem continua traçando o caminho, escrevendo nas linhas, andando em corda bamba, sou eu e você, coração... Tão cabisbaixo, tão solitário, sofrendo as mágoas que eu te dito, que eu te imponho.
Coração, não queria, mas acho que devemos nos separar...


terça-feira, 16 de novembro de 2010

send to: bragapsicanalise@...

Se eu choro escondida? Não, não, eu choro mesmo pra todo mundo ver, nunca fui de esconder essas coisas de ninguém, sempre tive medo dos meus filhos acharem que é errado chorar. Mas a verdade é que nem chorar eu tenho feito ultimamente, acho que sofri tanto por antecipação que não sobraram lágrimas pro fim.
Eu chorei desde o dia que o nosso casamento deu o primeiro sinal de que estávamos chegando na reta final do "caminho juntos". Quando o sexo não era nada mais que uma atividade pra melhorar a digestão, depois que os meninos cresceram e a gente parou de fazer planos, quando notei os olhos acostumados, a rotina desgastada e aquele clima de monotonia em todos os cantos da casa. Aquilo era o fim, pra duas pessoas que não paravam quietas estarem naquele estado, só beirando a morte mesmo.
Chorei por antes, chorei por depois. Achei que não ia superar, que não ia conseguir viver só, porque todas as minhas amigas diziam que quaretona só arranja namorado depois dos 70, isso porque homem precisa de alguém pra trocar as fraldas... Mas era muito mais dolorido ver a energia da pessoa que havia sido o pai, o amigo e o amante, que eu sempre precisei, esvair-se e perder o brilho. Foi quando eu comecei a pensar na possibilidade de  alguém lá fora estar precisando de toda aquela positividade que ele sempre emanou pra mim, a atenção, o carinho, os olhos de agradecimento por tê-lo acolhido durante esses anos, lembrei das coisas que pensava quando menina, a teoria toda de que as relações são dinâmicas e que o amor tem de fluir, coisa de gente que tem a mente aberta e o coração fechado, eu pensei tanto e chorei tanto.
Me culpei por não ter acordado mais cedo aos Domingos e feito o café, por não ter dançado sensualmente como prometi desde quando eramos apenas amigos, das noites que deixei de conversar por preguiça, dos dias que não liguei pra desejar bom dia, senti culpa por separar os meninos do pai, por não aguentar essa comodidade toda, me senti mal até por ter gastado um monte de papel limpando o nariz, eu pensei: meu Deus, como eles vão reciclar esse papel todo encatarrado? E chorei, porque o mundo já tá tão poluído, sabe?
Depois, quando as coisas dele foram deportadas, quando eu visitei o apartamento novo, que eu ajudei a mobiliar, foi que eu percebi: aquele homem já não mais me pertencia. Pensei melhor e pude notar que ele nunca me pertenceu, que as únicas coisas minhas mesmo eram as roupas que eu vestia naquele momento e meu coração batendo forte, medroso, cheio de receio de ser esquecida. Mas aprendi uma lição pra toda vida: uma vez casada com um bom homem, você é esposa pra vida toda. É que nem ser filha... Não é porque sua mãe morreu que você deixa de ser filha de alguém...
O nosso amor não morreu, sabe? Ele descansou, apenas, e todo descanso merece respeito.
Eu não choro por estar feliz, porque sinceramente eu não estou, depois de passar anos com uma companhia no outro lado da cama é difícil dormir sozinha, mas eu estou satisfeita.
Se eu tenho alguma coisa pra dizer ainda pra ele? Não e mesmo se tivesse ele já saberia.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Após o sinal deixe sua mensagem...

"oi linda, tudo bom? Queria saber se o cinema de sexta tá de pé? Quando puder me liga, beijos."
...
"gatinha, tô te ligando desde tarde, nossa, tô morrendo de saudade, quando que a gente vai se ver? Vou tentar falar contigo mais tarde"
...
"oi, é o menino da festa de ontem, disse que ia ligar, tá vendo?! Cumpro com a promessa..."
...
"Amor, por onde cê anda? Tô tentando falar contigo desde ontem, me liga, te amo..."
...
"linda, sou eu de novo, manda um recado por Orkut sobre o cinema, sério mesmo, tô afinzão te de ver"
...
"amiga, quando puder me liga, babadão pra contar..."
...
"não sei pra que tens telefone, nunca atendes quando a gente precisa, esquece que tem mãe..."
...
"ér... Oi, eu não sei bem o que falar em mensagem de voz, então... Sei lá, preciso falar contigo e..."
-Alô?! Oi?!
-Oi, pensei que não estavas...
-Ah, tava no banho, acabei de sair.
-Ah, sim...
-Disseste que querias falar comigo?
-É, então... Pois é, queria, não pensei que seria com tanta rapidez assim, não era urgente sabe?! Era só falar mesmo, nada demais, nada... Sei lá...
-Sei bem, mas e aí, como tá?
-Ah, não sei, tô chateado com uma pá de coisa, te liguei pra me acalmar, gosto de ouvir tua voz, és sempre tão legal comigo.
-Ah... Normal, o que aconteceu?
-Muita coisa, trabalho tá indo mal, monte de papel pra entregar, levei um pé na bunda e tals... Essas coisas chatas da vida...
-Hum... De pé na bunda eu entendo...
-Ér... Pois é, agora tô entendendo disso também, então... A gente bem que podia sair né?! Por o papo em dia, sei lá, como nos velhos tempos...
-É, podia, mas tô ocupada ultimamente, agenda lotada, mas qualquer coisa, sabes meu número... Tenho que desligar já, tem gente na outra linha, beijos e espero que as coisas melhorem viu?! Tchau...
Mais um que não será atendido.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cacos



O vento bateu e derrubou o copo de vidro, que se espatifou em pedaços relativamente grandes e alguns, consideravelmente, pequenos.

Esperança, levantou-se da cadeira e foi catar os pedaços visíveis e os pequenos cataria depois, antes de alguém pisar. Então, quando se ajoelhou e curvou o corpo para pegar os pedaçinhos, sentiu uma sensação de deja vú, como se já houvesse juntado cacos muitas outras vezes e não- definitivamente não- havia sido um sonho. Percebeu, então, que aqueles cacos de vidro eram parecidos com uns tantos cacos que ela havia juntado de seu antigo coraçãozinho de cristal.
Como tantas outras vezes, começou pelos cacos maiores, colocando-os no saco, depois grudou uns bem pequenos nas pontas dos dedos e os quase invisíveis varreu para debaixo do tapete, exatamente como fez com os caquinhos de seu coração, agora não mais de cristal.
Jogou os cacos fora, os do copo, não os do seu coração, esses foram colados com todo o cuidado e destreza que só os donos de corações estraçalhados tem. A experiência forniu firmeza manual e precisão para colar seus cacaréus e o tempo mostrou ser o melhor colador. Andava pensando em trocar seu coração em moisacos por algo mais firme, sólido, forte, que não quebrasse com facilidade ou que nem quebrasse, porque tinha sua vista cansada de tanto alguergar coração.
O coração de Esperança havia se tornado obra humana, não mais de Deus, de tanto que montou e foi desmontado, essas destruições, quase impossíveis de serem evitadas, vão enfraquecendo e Esperança tem medo de perder as estribeiras com esse desmonte todo e quiçá perder, também, sua esperança.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

- Lia?
Odeio encontrar conhecidos no mercado, eu sempre estou com o mesmo short jeans rasgado na parte da frente e uma blusa bem velha, parecendo uma flanelhinha.
- Beto?
Pior ainda quando esse conhecido é um ex rolo seu, que te deixou com uma desculpa besta de não ter tempo e agora namora com a vizinha bonitona do sétimo andar.
-Nossa, quanto tempo né?!
É, desgraçado, faz tempo mesmo, tipo assim, desde que me deste um pé na bunda!!
-Verdade, muito tempo mesmo- sorriso simpático, Lia, estás ótima de vida, vai que ele acredita.
-Nunca mais nos falamos, como estás?
Muito bem, mas não graças a você. Hoje pago a última parcela da conta do analista que passei a frequentar depois que me largaste, quitei a dívida com a telefonia celular, porque precisei falar com as minhas amigas as duas horas da madrugada para que elas tentassem entender comigo o motivo pelo qual me largaste, olha, cuidado hein?! Esse negócio que de madrugada paga menos... É tudo mentira.
-Ah, tudo tranquilo, graças a Deus.- sorriso mais que simpático, Lia.
-Poxa, que bom, Lia, como sempre linda.
-Ah, que é isso?! Brigada.- E você, como sempre, mentiroso.- Mas me conta, como tão as coisas?- a piranha já engordou ou te colocou um chifre?
-Tudo bem, tô trabalhando em outro lugar agora, ganhando melhor. Indo pra academia, né?! Tem que ficar bonito.
Salafrário, comigo só queria saber de breja e farra, tava cansado demais pra correr na praça, não tinha dinheiro pra nada, mas eu rachava feliz a conta do barzinho, que por sinal nunca gostei de frequentar. Vagabundo.
-Olha, que bom, pelo visto a mulher botou banca, hein?! Tá certo!- certo devia ser o soco que era pra dar na tua cara agora, filho da mãe.
-É né?! Sabe como é...
NÃO, NÃO SEI NÃO, aliás me explica desde o começo toda esse fuzuê que foi nossa relação, vamo alí sentar no banquinho pra gente bater esse papo. Começa me explicando porque planejaste tantas coisas se não ias ficar para ver elas sendo realizadas, depois me faz entender o motivo de tanta palavra bonita antes de me levares pra cama e o motivo do teu celular, uma semana após o acontecido, ficar sem rede no meio da cidade grande. Se puder, me diz também onde foi que eu apertei teu tempo, já que pra outra estavas disponível. Me diz, Beto, porque a verdade é tão difícil de ser dita, o que custa dizer: ah, Lia, tu é legal, bacana, engraçada, mas não rola, não gostei, sabe essa coisa de química? Então, não aconteceu. Eu ficaria puta de uma vez e ia fazer milhares de macumbas pro teu membro cair e ficares careca, mas depois passava Beto. Porque tudo passa, mas a mentira continua sendo mentira por um tanto de tempo que machuca, a gente precisa ouvir, fala, a verdade é muito mais fácil de superar...
-É, sei bem como é.
-Então, foi muito bom te ver, Lia, nem esperava te encontrar. Tenho que ir, beijos linda.
-Tudo bem então, beijos, Beto.

sábado, 6 de novembro de 2010

Depois que você desligou o telefone, desligou a mente, desligou o coração notei, de longe, que todas as oportunidades haviam ido embora, em meio segundo, antes de desligares, então a culpa não era do fim e sim dos segundos antes dele.
Mas diferente de todas as outras vezes que bati o pé e perdi o tempo, aceitei. Aceitei com a cara mais lavada e abandonada que tenho, aceitei por não ter motivos para não o fazer. Afinal a culpa não era minha. Afinal a culpa não era sua. Afinal nem existia culpa. Foi só mais uma dessas situações que a vida nos ocupa sendo ela, que não temos outra saída a não ser dar prioridade para o que nos é imposto.
A gente vai aceitando,vai engolindo, sentindo falta, depois saudade, depois conformidade... E depois a "fichalidade"- a ficha cai, demora, mas ela sempre cai.
Percebi que não era a vida, nem o tempo, nem os segundos antes do fim, a verdade era, e continua sendo, que você sempre foi legal demais para dizer que alguém não lhe interessava ao ponto de quereres sair da comodidade que é poder ficar com qualquer mulher, em qualquer lugar, sem ter que dar satisfações ou sentir culpa por isso. Ser legal demais também tem suas desvantagens. Porque um hora você perde a majestade da coisa, o controle da imagem bacana que quer passar, e destroça a esperança alheia de encontrar alguém legal de novo.
Não quero mais pessoas legais demais, compreensivas demais, ansiosas demais, que falam bonito demais, que tentam te convencer demais, porque elas gostam de menos. E se for pra gostar de menos, deixa para lá, porque eu já faço isso comigo muito bem.
Quer dizer, se eu me amasse, como deveria ser, não me contentaria com o antes-de-começar, porque o "antes" não passa disso mesmo, o "antes" é só um cartão postal do que vai ser e cartões postais nunca mostram as enchentes de lágrimas, o lixo da culpa, a pessoa sempre certa que habita cada um de nós, cartões postais são lindos e te fazem querer ir para aquele lugar com a promessa de ser feliz. Mas se eu me amasse, só um pouquinho, não me entregaria para qualquer promessa, porque antes de qualquer promessa eu tenho dívidas comigo mesma e qualquer tempo antes de qualquer coisa é lucro. E se eu me amasse, como deveria ser, perceberia que acima de qualquer pessoa que possa me fazer feliz, eu tenho esse poder e as pessoas só podem me fazer feliz, quando eu deixar isso acontecer.
A gente vai aceitando, vai engolindo, sentindo falta, depois saudade, depois conformidade... Na esperança de que a fichalidade chegue e a gente acorde.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Nunca tinha postado isso aqui.

Ele sentiu falta de mim também, dizendo ele...
Bom, a gente sente falta da última coisa boa que nos aconteceu, experiência própria, só esqueci minha primeira cicatriz quando eu percebi que existiam momentos bons longe dele, ele não pode querer voltar e resolver tudo só porque sentiu saudades de mim.
-Querido, eu sinto saudades suas todos os dias, mas não esqueço de todas as coisas que a gente passou pra chegar até o acontecido da saudade!
Ele não quer ter que sentir saudade, ter de pensar em mim- foi o que ele falou- talvez ele pense que vai ser sempre assim, que isso vai se repetir(...)
To enjoada, quero outra coisa, se ele for outra pessoa aceito.
Eu não consigo explicar nem aqui o que eu quero, o que eu penso, imagina pra alguém que não está dentro da minha cabeça e que ,como ele, vive de um jeito diferente do meu.
Eu oscilo entre a raiva e a saudade, o medo e a vontade... Tudo que eu queria agora era ter uma segunda opção, pra eu tentar de um modo mais seguro, não sentir tanto se não der certo, era tudo que eu queria por agora!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Muitos e poucos, até demais.

É muita história para pouco ouvido. É muito pudor para um instinto pecador. São muitas flores para poucos jardineiros. É muito cheiro para poucas memórias boas. É muita gente para pouco amor.
Poucas pessoas não ardem e muitas ardem tanto que nem sentem mais. Compreender amortece o desejo do real, entristece sonhos e não acaba nunca.
Fechem a conta dos meus "muitos e poucos". Quantificar as coisas não me ajuda em nada.
Troquei 3 suspiros, de amores passados, por 5 crônicas bem escritas e uns trocados de paciência.
E ainda tem gente achando que saí perdendo!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Viver é mais que isso, sabe?
É mais do que esperar a melhor pessoa do mundo te encontrar e te completar, mais do que querer que tudo dê certo, que os caminhos se emendem por conta própria, por acaso do destino, é mais que o destino.
Tudo depende de nós e quase tudo depende do mundo também. Cada um com sua parcela de responsabilidade, de compromisso, de vontade. Cada um com seu caminho, com seus planos pré-feitos, já encaminhados antes mesmo de nascermos, antes mesmo de tudo.
É mais que qualquer coisa que machuque, que chateie, que perturbe, que envergonhe. Porque o tempo passa pra passar, pra passar a dor, a chateação, a perturbação, as loucuras momentâneas, tudo passa. É o problema e a solução.
Não tem resposta, não tem um caminho certo, um guia conciso, nada assim, é só estar no mundo e fazer escolhas, e andar, e esquecer algumas coisas, perdoar outras sem precisar entender, porque entender dar uma dor de cabeça sem tamanho, uma dor de cabeça maior ainda porque ninguém entende mesmo.
Não espere ninguém, não espere momentos, oportunidades, não sente e veja. Se for pra sentar, então respire, sinta de olhos fechados, flui melhor, acalma qualquer ataque cardíaco, qualquer coisa, respire.
É mais que as frustrações do mundo de dinheiro que nós vivemos, dessa política escrota, de pessoas amargas, é mais que tudo isso, isso faz parte da escolha de um todo, mas não esqueça que fazes parte desse todo, tens o direito de fazer como achas que é certo, tens o direito de fazer alguma coisa funcionar pra ti, acima de qualquer problema, acima de qualquer medo, acima de qualquer alguém que diga que não vai dar certo porque "o ciclano tentou também e não deu".
Viver está acima de qualquer coisa e se nós repetíssimos isso todo dia, se entendêssemos isso, se re-interpretassimos as coisas, se revivêssemos as coisas para nós mesmos, tudo andaria.
O individualismo é a doença e o remédio.

O de sempre

Deixei, claramente limpa, a roupa suja lavada na mente para esvaziar um espaço e ter lugar para estes novos problemas que nunca chegam.
Eu preciso chorar, entende? Descarregar as mágoas que ignoro dia-a-dia, chorar às vezes que me ignoro minuto-a-minuto, aliviar a tensão da tristeza de quem foi embora, aceitar, depois de entender, que a partir de um certo momento o caminho é você consigo mesmo, apenas, e só, e somente, e sólido.
Desmembrar é preciso, desfazer é necessário, desapegar, desplugar, desligar, des-amar.
É sempre o tempo que passa rápido demais, são sempre as verdades que ninguém conta, é sempre a mentira, a mesma de sempre, é sempre o "nunca" martelando na consciência e te apontando o caminho certo, e te levando para o errado. É sempre.
Repetir: acontece. Reviver: opção. Morrer: fato.
A vida cronológica só existe para quem ignora o passado, mas quem faz isso? Pensamos anacronicamente, portanto, vivemos dias de ontem, anos que ainda não chegaram e horas que não passam.
Convivo com a dúvida: me conformo ou me mudo? Me deformo ou me monto? Me aceito ou me deixo? Duvido ou acredito?
Eu escrevo sempre as mesmas coisas, os mesmos assuntos, de formas diferentes, mas sempre os mesmos, se não me acostumei até agora, quando vou?

sábado, 16 de outubro de 2010


Para mim, os piores são os que nem eu. Descobri que sou meu próprio veneno.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dos problemas, todos nós sabemos. Agora, apresente soluções, por mais que não sejam plausíveis, ponha na mesa o que poderia aliviar o início da agonia, por mais absurdo que seja.
Só assim, repito: só assim, terás, de fato, minha admiração e respeito, quiçá um gostar.
Vou por um ideia em questão: toda sabedoria e prestígio seriam em troca do abandono paulatino da vaidade. Tornar-se humilde leva tempo demais e, nos dias de hoje, tempo é dinheiro.
Não seria preciso abraçar qualquer tipo de loucura, se entendêssemos que o bom senso nunca existiu. Seria uma poupança de tempo.
Queria por em questão a mentira, vindo de ti como um ato egoísta e sutil, não gosto de confusões, não gosto de ter que não confiar em alguém por farejar o falso, não sou de esperar o tempo me dizer o que de fato fica e o que vai embora, até porque o tempo passa e leva tudo. Não minta. Poupe-me o tempo.
Não pedirei verdades, mas, também, não cobrarei respostas, sinta-se a vontade para proferir o que quiser, porém não de qualquer modo, saiba suavizar palavras, o impacto, muitas vezes, não permite a boa desenvoltura da compreensão. Não dificulte as coisas.
O velho clichê “controle seus instintos ou eles o controlarão”, pra mim, ainda é o melhor clichê divulgado, a vida realista/naturalista já está manjada, ela só serve para reforçar a preguiça que as pessoas têm sair do primitivo de quem elas são. Confortar alguém assim é o mesmo que passar a mão na cabeça de uma criança mimada.
Hipocrisia é vício, é fofoca, é ação de gente grande. Não tenha medo de parecer ridículo, tema parecer sábio demais, todos os adultos que conheço medem conhecimento e não ouvi nenhum que soubesse de alguma coisa, além do que está escrito nos livros. Cresça na alma, não na mente. Crescer machuca tanto para, no final das contas, virares criança novamente.
Não vou falar de amor, nem de felicidade. O que é deveras sentido não precisa ser divulgado ou descrito.
Havia escrito amor em cada canto da casa. No porta-retrato em cima da cabeceira, nas canecas de café com nomes gravados, nas fronhas novas, nos dois travesseiros por cima da cama- que não eram meus- nos livros empoeirados na estante, por cima dos planos, por cima dos panos, por cima de mim, no corpo todo.
Quando a porta bateu, senti um jato d’água apagar cada letra de tinta frágil, marcada no porta-retrato, nas canecas, nas  fronhas, no único travesseiro em cima da cama, na estante vazia, nos planos- agora desfeitos- nos panos- agora rasgados- em mim, no meu corpo todo, agora em pedaços.
Tudo acabou assim, com um jato d’água apagando cada vogal e consoante que havia escrito durante todos esses... Esses tempos.
Talvez se tivesse reforçado com caneta permanente, ou ditado e mostrado os locais marcados com amor, talvez se eu tivesse apenas lembrado que aquelas letras, aquela palavra, não eram apenas um detalhe.
Talvez, uma hipótese apenas, se tivesse deixado de pichar toda a casa e usado toda a tinta para escrever, o que tanto eu sentia, dentro do coração dele. Talvez, ele não teria apagado todo o resto.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nunca gostei muito de poesias, nem de mentiras, nem de pessoas pela metade, ou pessoas que pedem cuidados, carinhos, atenção. Nunca gostei de histórias longas, pessoas que não sabem ser engraçadas, pessoas convencidas. Nunca gostei de gente triste, de gente exagerada, deturpada pelo tempo, lamentosa, saudosa, nada disso.
Mas, por íncrível que pareça, eu gostava de pessoas, eu gostava até as reconhecer em mim, então passei a odiar todas e, com isso, necessitar cada vez mais de cada uma.
-Não és bonito, sabias?- ele sabia, mas não precisava ouvir- és alguma coisa melhor que isso, um pedaço gostoso de algo que eu não sei. Não costumo prestar atenção em gostos, mas eu lembro do teu. Só pra constar... Isso foi um elogio. E não vais ouvir esse tipo de coisa com frequência.

domingo, 19 de setembro de 2010

Lavei minhas mãos. Com água, sabão e descanso.  Limpei minha alma com um pouco de "graças a Deus" e acalentei a mente com um sopro de "deixa estar". Conformei a vontade cravando os pés no chão e acordando ciente de que sonho, muitas vezes, não passa disso.

domingo, 5 de setembro de 2010

E eu faço falta? Eu deixo saudades? Pensa em mim?

Depois de tudo.

Vai acabando aos poucos, em ml, todos os dias, durante as palavras que não foram ditas e, principalmente, pelas que foram, se continuar acabando assim, quem sabe não me acostumo?
Eu fico esperando, bem de vez em quando, uma pontinha de saudade em alguma palavra, uma escapulida de tristeza, mas a única tristeza que conheço vinda de lá é a mesma de sempre, então continua acabando.
Mas as manias pesam, os "três-jeitos" que encaixam, os que não encaixam e que dei meu jeito pra encaixar, o costume, ah, o costume é a pior parte e ainda não sei desacostumar com facilidade, é um processo bem lento, por isso que todo dia acaba 1 ml.
São tantas pessoas e são tantos jeitos, manias, cheiros, tantos e eu até me sinto bem muitas vezes, com muitas pessoas, mas quem a gente escolhe sempre faz falta, principalmente quando essa pessoa "desescolhe" a gente assim: bem de repente, depois de tudo ter dado quase certo. Depois de tudo ter sido quase bonito e depois de eu voltar a ser quase romântica.
"Depois de tudo" é uma expressão que nela estão contidas doação, tristeza e fim, acho que não preciso escrever mais nada.
Depois de tudo.

sábado, 4 de setembro de 2010

Foi assim...

Cheguei em casa- um apartamento com sala e cozinha dividindo o mesmo retângulo- as luzes estavam apagadas e o lugar um forno, abri a porta da sacada, joguei a bolsa e os livros em cima do sofá, lembrando que se estivesse na casa dos meus avós seria motivo de briga. Bati na porta do primeiro quarto do corredor, ninguém abriu, pensei que ele deveria ter saído pra algum bacanal com os amigos e fiquei triste, porque era um daqueles dias que eu precisava de um abraço ou de alguma coisa irritante que ele fizesse, como fazer cocegas.
Me arrastei até a última porta do corredor no lado esquerdo e quando abri vi um pé branco com alguns fios amarrados, na ponta direita da cama. Ele dormia de lado por cima do edredom e do lado que eu não durmo, talvez tivesse caído no sono alí de propósito, mas me remeteu uma criança dormindo na cama dos pais, porque a cama deles é sempre mais gostosa que a nossa.
Ele, aquela mentira que depois de alguns anos algumas vezes me doía, deitado com uma mão no meu travesseiro  e com a outra segurava o meu blusão de dormir, não sabia se era saudade ou se ele, sabendo que eu não abriria mão de dormir com o blusão, queria ser acordado quando eu chegasse, mas antes mesmo que eu pudesse tentar tira-lo sorrateiramente dele, ele abriu os olhos e deu um sorriso leve, largando o blusão e estendendo a outra mão pra mim.
Deitei ao seu lado e ele me abraçou, como eu precisava, dormimos até o outro dia.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Para mim as coisas terminam duas vezes. Uma, quando o fim é comunicado e outra, quando percebo que não tenho mais porque ter esperança de que o comunicado fosse desnecessário. Então eu choro duas vezes.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Não tenho grandes planos, pra falar a verdade nem sei se ainda tenho planos, daqueles que são reconhecidos, sabe? Que acaba sendo um bem comum entre as pessoas. Eu nem tenho mais nada disso. Eu fui largando todos eles pelo caminho, quando percebi que antes de ter planos a gente deve caber dentro deles, sabe como é? Tem que ser alguma coisa que encaixe contigo, que faça sentindo, caso contrário não serão planos e sim sonhos.
Eu só não posso dizer que não tenho sonhos, porque eu vivo disso, afinal perdi os planos.
Antes eu tinha medo de morrer, porque tinha um monte de coisas para fazer em mente. Hoje, eu ainda tenho medo de morrer, mas não tenho coisas em mente, então eu só tenho medo de morrer mesmo, de não existir mais e não poder pensar, eu não sei o que é não poder pensar, então não posso imaginar o que acontece comigo depois que eu morro. Estranho, né? É.
Eu tô entediada, muito entediada, mas não quero fazer nada, não tenho com quem fazer e isso já me desmotiva muito, porque eu ando vendo os meus planos passados presentes na vida de outras pessoas, não que elas não mereçam, o caso é: eu não mereço ou eu não faço por merecer? É, eu sei que parece dar uma de coitadinha e tudo mais, eu também acho isso chato, nunca fiz muito bem o papel de vítima, sempre gostei de atacar e ser a megera mesmo. Mas tudo isso me prende mais ainda, eu me prendo mais ainda e acredito cada vez menos, sem crença a gente chega aonde?
O que antes me destacava das outras, hoje, tanto faz. Tá todo mundo no mesmo barco. E eu passei a ser só mais uma na vida de muita gente que me importava e isso chateia, sabe? Não tô acostumada com isso.
As qualidades que eu demorei tanto pra ter me atrapalham muito hoje, porque eu não sei medir o uso delas, eu só uso com toda força que eu posso pra não correr o risco de voltar atrás e fazer alguma bobagem por impulso. Passei a tentar me colocar no lugar das pessoas e a fazer- sempre que eu posso- o que gostaria que elas fizessem comigo, tentei ser o que nunca foram comigo e no começo deu certo, foi novidade, ganhei bônus com muita gente... Mas hoje as pessoas, sabendo disso, agradecem e vão embora, porque eu ser compreensiva demais abre portas pros outros fazerem o que bem entendem e me colocarem como segunda opção e eu não consigo parar, porque eu entendo, porque eu precisei de uma fuga de muita gente e ninguém deu o "passe fácil" pra mim, sabe? Eu deixo. Ser legal demais e não se importar com algumas coisas fizeram com que eu virasse uma amiga muito legal, apenas isso, uma amiga muito legal que beija, é isso, exatamente isso, criam uma intimidade grande comigo e depois me descartam, porque eu sou amiga mesmo, amigos sempre estão lá por nós e eu sempre estou.
Eu não me acho, sério mesmo, são coisas que eu demorei muito pra ter, que eu ralei muito pra construir, porque é interessante pra mim agradar quem eu gosto, facilitar as coisas pra quem eu gosto, porque já tem muita gente dificultando. Eu pensei que se eu facilitasse pras pessoas elas criariam uma sementinha de bondade, ficariam menos amargas por terem sido ajudadas e facilitariam pra outras pessoas também. Desse jeito a gente diminuiria as insatisfações nos relacionamentos, o mau humor, as reclamações e os chororos.
Não adianta, as pessoas querem mesmo a infelicidade, elas gostam disso, elas precisam reclamar, elas precisam da insatisfação, da injustiça para se sentirem mais humanas, porque criaram uma imagem de que a felicidade é impossível e que todo mundo vai pisar em ti. LÓGICO QUE VAI, a gente pisa em cima de todo mundo também, tudo que vai volta e volta 3 vezes pior.
Eu continuo fazendo isso, porque eu encontrei alguém que facilita as coisas pra muita gente também e por ele ter facilitado pros outros eu facilitei pra ele, é nessa esperança que eu vivo: de encontrar alguém que tenha consciência e um dia facilite pra mim.
Eu não vou dizer que estou cansada, caso tivesse teria parado há muito tempo. O que acontece, na verdade, é que eu me sinto vazia não fazendo todo esse esforço que eu faço pra ser o melhor que eu posso ser como pessoa, porque caso eu volte a viver de instinto eu vou ser só mais uma ariana mandona, possessiva e mal humorada.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Olha, só acho que essas sensações existem, tudo isso existe, todas essas coisas que a gente sente quando "ama" alguém, quando fica "triste", ou com "raiva", ou qualquer coisa parecida. Todas elas existem e se elas existem não são mentiras. O problema é que cada um dá nome aos bois como acha que deve. Cada um mistura as sensações e dá o nome que acha que deva ser, mas as vezes, muitas vezes na verdade, as pessoas querem tanto sentir algo grandioso, que acabam diminuindo o número de sensações atribuídas a um certo nome e dessa maneira profanam o que realmente aquela palavra significa, o peso de sensações que aquela palavra deveria ter, entende? A mentira está na ansiedade que muitas pessoas sentem.
Até onde minha idade permite, pude perceber que muito dos nomes que eu usava eram na verdade combinações pequenas de sensações, não eram o todo que a palavra realmente representava. Eu nunca senti uma tristeza completa, como ela deveria ser. Eu nunca fiquei com raiva com todas as sensações que isso implica.
Existem palavras que abrigam números pequenos de sensações e por mais que pareçam as mais fortes, são as menores e as mais simples, como a raiva e a tristeza.
Para mim, veja bem a pessoalidade, o amor é o nome que mais abriga sensações em seu sentido completo. Quem ama sente raiva, tristeza, agonia, felicidade, vergonha, saudade... O amor, para mim, é uma coleção de sensações que aumenta de acordo com que você se permite sentir tudo que o mundo tem a oferecer, tudo que podemos sentir pelo próximo e por nós mesmos. O amor é um nome que dura a vida toda para ser completo. Acho que eu amo em parcelas assim que as sensações aumentam em mim, assim que eu me abro pro mundo, que eu me aceito e aceito o outro com todas as sensações que ele pode me causar, desse jeito aberto mesmo, assim eu amo e esse é um processo que dura a vida toda.
Baseada nessa besteira que acabei de falar, penso, então, que talvez seja por isso que encontramos pessoas tristes e "raivosas" mais facilmente, do que pessoas felizes, satisfeitas e amorosas, porque o nível de complexidade de tais sentimentos são baixíssimos, o que os torna alvo de pensamentos mais simples e de pessoas mais frágeis.
Outra coisa que dificulta a real sensação das coisas é um sentimento pequeno, de palavra pequena também, que vive em mutualismo com outro sentimento pequeno: a ilusão. O medo anda de mãos dadas com ela, essa combinação de medo e ilusão, chamada por alguns de "felicidade" ou "tristeza", mistifica os reais conjuntos de sensações atribuídos a uma palavra. Mas como todo sentimento, para eles existirem e coagirem para o lado negativo você tem que se permitir senti-los e assim como todas as sensações é opção sua tê-las ou não. É preciso saber o que para você é medo e ilusão, é preciso distingui-los, porque desse modo eles não se darão as mãos e distantes eles não sobrevivem.
Você pode amar por incompleto, mas não deixa de ser amor, sabe? Porque para ser completo tem que começar de algum lugar e para ser real tem que se depositado confiança, credibilidade, portanto, se você puder unir todas as sensações que você já sentiu na vida em um só momento estará no caminho certo.

Aqui dentro é branco

Não é frio, nem quente, nem nada. É vazio, um vazio branco e quieto, como uma sala fechada, mas não muito arejada. Não me sufoca, eu respiro bem, ando bem, vejo bem, penso bem, mas não sinto nada. Não estou sedada. Nem em transe. É um vazio quieto e branco.
Eu vejo aqui de dentro todas as coisas que um dia achei bonitas se fragmentando em pedaços de cores, uma refração de sensações. Aqui dentro é branco. Essas cores colorem o mundo, as pessoas, as coisas de maneiras diferentes, cada um combina a cor como quer, como acha que deve e quem sou eu para dizer que é certo ou errado? Aqui dentro é branco. Cada um escolhe a mistura de cores e atribui um nome especifico, alguns acham que vermelho e rosa é amor, vermelho e preto é ódio, preto e cinza é tristeza, e assim as pessoas pintam as coisas e as coisas ganham nome e essas coisas pintam as pessoas. Aqui dentro é branco.
Eu me lavei, me livrei, me suicidei das cores, das coisas e das pinturas todas. Aqui dentro é branco.
Pode ser paz, recomeço, vazio e até mesmo tristeza. Aqui dentro é branco.
Pessoas de fora, aqui dentro é branco, eu aviso todos vocês, todos os dias, que aqui dentro é branco, mas ninguém vê isso, as cores tomam conta dos olhos, as cores tapam a vista. Aqui dentro é branco.
Nada me cega, nada me engrandece, nada me diminui, nada me atiça, nada me entristece, nada. Absolutamente nada me doí.
Sabe Deus, se vou colorir esse branco. Sabe Deus, se vou sentir todo mundo de novo. Sabe Deus, se aqui é certo, errado, ou nada disso. Sabe Deus.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"Se pra ele tanto faz, pra mim é que não vai fazer diferença, não é verdade?"
Não, não é verdade. Eu não sei a quanto tempo ando me enganando quanto a não me importar com o que os outros deixam de sentir por mim. Tudo bem, que o que os outros sentem é assunto deles, mas não seria justo ser meu assunto também, quando o gosto está diretamente ligado a mim? Eu não mando em ninguém, é fato, não tenho capachos, mas incomoda muito gostar sozinha, sabe? Isso é egoísmo, não querer gostar só? Eu nunca sei.
Eu fico proferindo essas bobagens e as pessoas escutam, devem me achar super "descolada" e tudo mais, veja bem, tudo bem pra você acreditar nisso, mas não consigo me convencer dessa sentença, por mais "descolada" que ela seja, menina tô-nem-aí 2010, continua sendo mais fácil acreditar na mentira alheia.
Eu penso tanto e no final sou mais boba do que aqueles que não pensam. Eu penso tanto pra parar no mesmo lugar de onde eu vim. É, quase, tudo culpa dessa bobagem que o povo fala, de que com o tempo a gente cresce e vira gente madura, que conhece das coisas e não teme besteira. O tempo passou, mas eu ainda sou uma menininha. Eu continuo querendo prender as minhas pessoas preferidas dentro de uma garrafa e salvar todas elas do mundo chato, de gente antipática e que briga comigo sem falar. Se eu conhecesse alguém legal há muitos anos atrás eu ficaria triste também por essa pessoa não gostar de me conhecer, eu ainda ia querer ser lembrada por todo mundo só por ser eu, ia continuar tendo a vontade, que tenho agora, de deitar no colo da minha mãe e pedir pra ela me trazer de volta o outro. As pessoas continuam sendo bonecos pra mim. Pessoas, eu sou uma menininha. Não me recusem depois de me aceitarem, eu sou birrenta. Não me forcem a ser a parte grande, que todo mundo tem depois dos 15, porque dá muito trabalho, sabe? Essas ideias partem do princípio de que meus atos serão consequências dos seus atos, porque eu sempre espero alguém mover um dedo pra eu mexer minha mão. É, isso mesmo, sou paradona, não sou "descolada" e se a pessoa que eu gosto tratar todo mundo como ela me trata eu vou ficar fula da vida.
Pra não é "tanto faz" se ele não liga pra dizer o que tá acontecendo com a gente há duas semanas ou mais, eu perdi as contas dessa lance chato que anda acontecendo. Não é "tanto faz" se ele não dá noticias, porque percebeu que estar comigo é carregar metade do meu mundo nas costas dele, ou porque refez a vida e notou que não tem espaço para sentimentos complicados e compromisso feito casamento. Não é "tanto faz" que, talvez, não seja nenhuma dessas opções citadas e sim o fato dele querer um tempo pra ele ou poder estar muito ocupado, não tá "tanto faz".
Tanto faz é uma coisa que nem cheira, tanto faz é uma coisa que nem coça, tanto faz é algo que nunca passa pela minha cabeça, que nunca me preocupa, que nunca é mencionado. Relação a gente tem com qualquer pessoa onde exista afeto e onde tem afeto, ao meu ver, tem que ter respeito, sinceridade e consideração. E se nada disso existir, eu estou completamente fudida, porque deposito toda a minha crença nessa teoria e a base de toda a minha dedicação vem exatamente dessa bobagem que acabei de falar.
Compromisso, sim, tanto faz. Mas meu tripé não! E ele está sendo violado ultimamente.
Eu não suporto ser cobrada e não suporto cobrar, eu odeio gente chata, que não respeita espaço e por isso faço de tudo pra não ser chata e respeitar o espaço dos outros. Eu estaria cobrando alguma coisa se pedisse uma explicação da nossa situação, pra saber se a gente ainda tem uma situação e se eu posso começar outras situações com outras pessoas. Eu estaria sendo chata se ligasse só pra ele lembrar que a história não acaba até alguém se manifestar e por o ponto final. E isso não é "tanto faz" pra mim. Eu me importo muito, não quero ter meu nome atrelado a chatice. Eu não ficaria nada feliz, eu não estou feliz no momento, com o ponto final, mas é bem melhor do que esperar alguém que pode não voltar, é bem melhor, sabe? Ouvir o que a gente não gosta sacode o coração e eu tô precisando de uma sacudida, pra substituir a necessidade dele.
Eu não quero explicações detalhadas, eu só quero um motivo que convença, que seja sincero, só isso. Eu não sei o porquê da existencia desse pensamento de que não é nada demais e que é coisa da minha cabeça, eu não sei, porque parece uma coisa bem grande, que vai me encher a cabeça e mudar alguns conceitos.
Ai, eu só queria resolver isso, mas ele não mexe o dedo. Eu sou uma menininha, né?
Cheguei em casa exalando o perfume daquele abraço- que não me queria mais- estava na roupa, tirei a roupa. Grudado na pele, tomei banho de água quente e esfreguei até ficar quase sem ela. Estava no cabelo, lavei bem o cabelo. Saí do banho, quase triste, depois pensei que havia deixado a água levar a última coisa boa de quem eu gostava. Senti o cheiro de novo. O perfume ainda estava em algum lugar que eu não sabia bem. Olhei todos os meus perfumes em cima de uma prateleira, cheirei um por um para sentir o mais forte, achei um marrom, pequeno e muito caro, ia grudar, ia no mínimo abafar o outro cheiro, ia no máximo me deixar quase angustiada de saudade, esses quases que me matam. Não passei o perfume, resolvi comigo mesma dormir só essa noite com ele em algum lugar do meu corpo, era nossa última noite, hoje podia.
Já fazem dois anos que ainda sinto o mesmo perfume amadeirado em algum lugar do meu corpo. Um dia desses descobri, está na memória.

sábado, 21 de agosto de 2010

Eu não quero responder perguntas sobre mim, nem consertar afirmações, dar minha opinião, nada. Eu não quero nem falar, nem pensar em responder. Eu enjoei de mim, se alguém quiser me levar eu deixo, eu deixo porque eu não aguento mais ter que lidar comigo e com todas as coisas que passam na minha cabeça.
Eu cansei de manipular, de maquinar as coisas, de tomar conta das pessoas, de ter o controle, eu não quero mais. Mas eu não sei fazer outra coisa, eu não sei ser outra coisa além do que eu me fiz ser durante todos esses anos- acho que 9 anos.
Eu não aguento mais minha casa, meus amigos, minhas coisas, eu não quero mais. Por maior que seja o enjôo e a vontade de ir embora eu não tenho pra onde ir e mesmo se tivesse eu não iria, é a minha casa afinal de contas e meus amigos, eu os amo tanto, eu quero tanto o bem e levaria todos comigo se eu fosse. As minhas coisas são uma parte de mim e eu levaria caso eu sentisse saudade.
É uma sensação de tédio e impotência, algumas vontades encabuladas pela realidade, não vão acontecer, metade das coisas que eu penso não vão acontecer, porque nos meus sonhos eu faço as coisas por mim, mas na minha vida eu faço as coisas pelos outros na esperança de ser um pouquinho deles, é a única maneira que eu encontrei de não ter que me encarar todo os dias.
Eu não suporto não estar gostando de ninguém, de ficar sozinha e poder pensar no que faz mal em mim, eu odeio ter que me enfrentar, porque quanto mais eu lido comigo mais eu me enojo, mais ojeriza eu tenho e eu vou ter que estar comigo durante uns bons anos, eu não posso não me querer tão cedo, ainda tenho tanto tempo.
Eu quero quebrar as barreiras, os cercadinhos que todo mundo impõe em uma relação, queimar os ciúmes, as saudades, a carência e pisar em cima do tabuleiro de joguinhos do amor. Eu queria sacudir as pessoas e perguntar se ela sentem realmente o que elas pensam sentir, se elas querem as coisas por querer ou por falta de coisa melhor. Se elas não se cansam de serem felizes sofrendo o tempo todo. Eu queria saber da onde que começou essa besteira de rotular as coisas, as pessoas, os sentimentos, as relações, os quereres, do que adianta se tudo é uma coisa só, do que adianta se cada um sente de um jeito? Parem com isso e me deixem fluir sem medo de ser machucada, sem medo de que pisem em cima de mim por eu ser sincera quanto a tudo que me doí e me alegra nas pessoas, parem com isso, pelo amor de Deus, parem com isso.
Essa vontade de ser um melhor que o outro só nos cega e me confunde, eu já não sei com quem eu posso ser sincera e dizer que eu senti saudade, não sei pra quem eu posso dizer que lembro do rosto dessa pessoa, mas não lembro de onde, eu lembro de rostos, de um jeito descompromissado. As pessoas acham que dizer que lembram de rostos as tornam bobas, afinal quem lembraria de rostos? Eu lembro, eu lembro de todos os rostos e eu queria poder dar "oi" para todos eles na rua, no shooping, no cinema e perguntar como eles vão e de onde eles vem, porque eu lembro, eu tenho o direito de saber quem são os donos dos rostos que moram na minha memória.
Eu cansei de dar conselhos e parecer ser mais esperta e experiente que muita gente, cansei de parecer grandes coisas. Eu deixei de apenas sentir, para saber o que eu estava sentido só para poder ajudar quem não sabe o que fazer com a vida, eu fiz isso por vocês. Eu me controlo por vocês. Isso não é um favor. Eu não sou grandes coisas, eu só quero que vocês sorriam, que vocês me provem que depois da tristeza tem uma alegria, que é possível gostar de alguém, que é possível e é justo sentir uma fraqueza quando o outro vai embora e quando ele volta, digam pra mim apenas isso, é possível?
Essas coisas não são mais para mim. Eu já me dividi tanto durante anos, me impus tantas limitações, me controlei tanto, que não posso mais fazer isso com quem eu gosto, eu não posso querer alguém desse jeito, dividindo as coisas, limitando os laços, controlando os instintos. Eu não posso mais. Então me deixem ser o que eu sou, segurem a minha mão e me deixem ser.
Eu não me importo que a fulana não seja bonita e não faça a raiz do cabelo dela, a fulana é feliz? Eu não me importo que o ciclano não queira nada com a vida e tenha preguiça, mas ele é feliz? Eu não quero saber se ela vai para as festas, se ela ficou com os meninos mais bonitos, se ela é linda e pode ter quem quiser, ela é feliz? Eu não me importo com as pessoas me olhando enquanto eu sento de frente pro João e deixo ele me fazer carinho, eu não me importo com o que elas acham que a gente é, o que a gente faz, o que a gente quer, porque isso é coisa minha e o que elas acham é coisa delas, cada um com a suas coisas.
Ele é meu pedaço de mentira de verdade, ele existe mesmo e me deixa ser. É tudo mentira, tudo, e por isso é mais sincero, por isso eu quero tanto, eu tenho tanto e mesmo que ele vá embora eu não me importo muito, sinceramente, porque eu não sinto que o tenha, eu não sinto que ele é meu e que deva ser, eu sou feliz só de poder ter um pouco do que eu quero sem esforço. Só isso. Ele é um carinho personificado, só isso. Ele é a minha folga de todo mundo, só isso. E quem não entende acha que isso é amor, que é gostar, mas não é. Eu gosto de outra pessoa, desse jeito de vocês eu gosto de outra pessoa, mas do meu jeito eu gosto do João. Se ele for embora eu não vou me machucar, ele não pode me machucar, porque a única pessoa que me machuca de verdade sou eu mesma tentando ser um pouco parecida com vocês, eu não sei ser assim.
Cansei de desabafar e não conseguir contar tudo, cansei.

domingo, 15 de agosto de 2010

Eu o conheço tão bem que ando dentro dele de olhos fechados, passo por onde doí, piso onde não doí, na esperança de que tenha mais lugares sensíveis da próxima vez que entrar nele e fechar os olhos.
Doer em alguém é o modo mais fácil de chegar ao coração, é o único sentimento que todo mundo sabe reconhecer só de sentir parte dele. Eu quero ser lembrada. Apenas isso. Não me importo como.
Cansei das pessoas que gostaram de mim, ou melhor, elas se cansaram. Porque a maioria só percebeu que gostava quando não tinha mais e eu só percebi que fazia falta quando fui embora, entende? Havia dias em que eu não ligava, não procurava por meio de comunicação nenhum, só pra ter o prazer de saber que alguém sentiu a minha falta, só pra receber em um dia qualquer da semana, depois de todas as tarefas que eles tinham pra fazer, uma mensagem cheia de carinho ou uma ligação, em casos extremos de sumiço, com aquela voz de cão sem dono dizendo que sentiu minha falta. Mas foram poucas as vezes em que isso aconteceu. Muito poucas mesmo.
Cansei, sabe?
Cansei das vezes que não reclamei por não querer irritar, de compreender quase tudo, de ser a mulher bacana-engraçada-despojada, quando o que eu mais queria era dar com o sapato na cabeça dele e perguntar por onde ele andou. Andar de salto alto para parecer mais mulher, dar carinho mesmo quando quem precisava era eu, me preocupar com besteiras só pra eles não se sentirem sós, ser mais louca pra fazer com que eles fossem mais normais. Eu não doía assim, eu era legal. E só sentiram minha falta depois. Depois que não encontraram ninguém que perguntasse como foi no trabalho, que não abriam mão da vaidade pra acolhe-los, só depois das broacas safadas que metiam chifres, só assim. Só depois eles sentiram falta de mim. Mas foi uma falta longe, bem longe mesmo, depois de chorarem horrores por quem nem quis saber, depois de serem pisados e se sentirem usados, como menininhas e canalhas. Bem longe.
Hoje eu quero doer em cada pedaçinho. Porque parece que assim eles me querem bem.
-Que ouvir uma bobagem?
-Não.
-Antes eu tinha medo de encontrar alguém que nem eu.
-Todo mundo espera encontrar alguém assim, por que não querias?
-Porque eu não seria única.
-E agora?
-Agora eu continuo não querendo, mas só porque disseste que todo mundo quer.
-Que besteira.
-Eu disse que ia falar uma bobagem.
-E eu disse que não queria escutar.
-Mas sempre dizes isso.
-Por que será?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Menina-quente esfria.

Insônia é coisa de quem um dia já teve o prazer de descansar inconsciente. Sofres mesmo de efeito bela adormecida controverso, ao invés de dormir para sempre, acordas sempre.
Isso não é doença, não. É consequencia desse sim ou não que domina tuas crenças e não te deixa em paz. Inferno ou céu, coisa de amor ou coisa da cabeça. Ver ou não ver, eis a questão!
Quem diria... A mulher que implora sinceridade a todos é a menina que foge da própria verdade.
Não adianta, um dia vais ter que aceitar o que te assombra, porque efeito nenhum dura pra sempre, porque sempre nenhum aguenta o peso que é saber a verdade e viver a mentira. Essas dúvidas persistem porque queres, tens as respostas aí, no lado frio da cabeça, digamos que no lado insano, mas quem foi que disse que pensar era loucura, mesmo?
Não é coisa de agora, sabes disso, é coisa de tempos e daí que vem as situações imaginárias, as conversas que não tiveste, as coisas que não viveste e se perceberes és uma espécie de esquizofrênica interativa, apenas isso. Tens um mundo que divides com pessoas que nem sabem, que nunca contestaram a idéia de que amor é para ser sentido e não entendido, depositas tua vida nesse mundo paralelo a realidade e vês de longe o real passando cinza bem ali onde estão todos os teus medos e vergonhas, por lá por aquelas bandas que ninguém visitou. Os surtos de realidade só contas para quem amas e amas quem não entende, será coincidência ou só mais uma forma de te protegeres? O que acontece se encontrares alguém que tenha certeza do que desconfias? Alguém que destrua o pingo de esperança de poder viver na realidade do teu jeito? O que acontece quando descobres que aquele cinza, das bandas que ninguém visitou, é a parte verdadeira da tua história? O que acontece quando descobres que quase todo mundo tem um mundo paralelo e que a interação entre vocês é a apenas uma interseção do que deveras existe? O que acontece quando alguém esfrega em ti tudo o que te incomoda? O que acontece?
Menina-quente esfria. Exala medo. E vai embora. Foste embora, mais uma vez fugiste. Que bom que consegues, menino-palhaço não consegue. Ofereceste teu corpo então para chorar por ele, para sonhar por ele, para viver por ele e agora ao invés de bater de peito com a verdade, apenas pensas em como seria o mundo paralelo dele e te dispões também a oferecer o teu para ele, como forma de amenizar a dor, como forma de tirares o peso das costas, da injustiça, de teres escolha e ele não. Oferece teu mundo ou vai embora, menina. Te entregas agora ou dorme, menina. "Abraça a tua loucura", menina, ou ignora. Meios termos não te cabem a partir de hoje, acorda menina.
Mas lembra antes de tudo, é um caminho sem volta, uma vez dentro nunca mais fora, são os restos dos dias sendo desentendida, sendo louca, sendo nada para muita gente. É um caminho sem volta e um arrependimento é só mais uma peso para carregar. Pensa bem, menina, mas larga os meios termos, te larga ou te segura.
Hoje não vais dormir, mais um "ou sim ou não" para pensares. Bom efeito, menina. De quente, agora, só o Sol das duas da tarde.

Eu tenho medo de não conseguir ignorar mais.

Não sei se é mérito dele ou meu pesadelo, mas hoje foi o dia que eu mais senti razão pra chorar, mesmo sem saber o motivo real de estar chorando. É só lembrar da cara boba e louca, do sorriso sem sentindo que só eu não entendo em nossas conversas, as palavras saindo devagar e o jeito de pena.
Eu me senti uma criança de seis anos, sentada, ouvindo e sendo olhada por outra criança de seis anos que age como se tivesse mais. Fingindo não entender, achando melhor achar que era loucura mesmo, coisa de quem escreve, criatividade exacerbada de um jovem poeta, mas eu também achava aquilo, eu mesma pensei naquilo algumas vezes, aquela loucura, aquela coisa de quem escreve, a criatividade já passaram por mim também e eu não me classifico nessas coisas.
E os meus pensamentos começaram a invadir minha cabeça, senti uma nostalgia do desespero da vez que pensei naquilo também. Mas ter ali, na sua frente, uma pessoa que tem certeza do que fala, por mais que esteja errado, espero que esteja, dizer o que você também acha possível é desesperador.
Pra falar a verdade ele sempre me intimidou por ser diferente, porque eu sempre quis ser diferente e ele só era, sem querer, então eu fazia a cara boba que todo mundo faz quando o vê, como forma de tentar retribuir a diferença que ele fazia, mas aquela encenação me cansava. Ele não era nada mais que um menino, que não lavava o cabelo e tinha milhares de fios espalhados pelos membros inferiores. Só. Então eu parei. Parei de sorrir do jeito bobo, parei de tentar parecer legal, parei de querer que ele me notasse e visse que eu era diferente, resolvi aceitar minha normalidade, meus trajes e minhas personalidade como dava e esqueci.
Depois eu tentei deixar pra lá a diferença, então comecei a ver um menino que não sabia bem pra onde tava indo, meio errado, meio sem graça, meio triste e exagerado. E esses meios me afastaram, porque eu já sou metade, ficar do lado dele não completava, na verdade, subtraia, sempre.
Ele gostou do meu carinho e mesmo parecendo mentira, coisa de gente carente, eu não pude negar, percebi nisso uma oportunidade de fazer a diferença de novo, depois vi que era a mesma bobeira de sorrir de um jeito bobo pra ele e larguei de mão.
Do nada, em um momento que eu perdi, não lembro, ou que nem existiu, eu percebi uma bobeira nele em relação a mim, uma bobeira mentirosa, mas ainda sim uma bobeira. Eu nem ligo mais, porque ele todo parece mentira, parece texto, poeta escreve o que não sente.
E as coisas aconteceram por conveniência. Já tinha passado algumas tardes fazendo cafuné e dando atenção, mas nada daquele jeito descompromissado, apenas por dar carinho e nesse dia foi assim. Eu senti uma necessidade enorme de dar o carinho guardado e ele aceitou sem saber, foi bem assim que as coisas começaram mesmo. Ele virou meu cariño, a ponto de eu ter ficado chateada por ele não ter aparecido um dia pra receber carinho,enfim...O jeito dramático, triste, dolorido não me encantavam, não me encantam, o que me fez sentir falta foi a cara boba, o fato de "coisar" ele, as mãos bonitas e feias, a cabeça do meu cafuné, as voz que soa estranho, os braços cortados e contornar o rosto dele com a minha boca.
Tava tudo muito bem e engraçado, até eu perceber que ele andava tocando não só a parte que sente vontade de acolher as pessoas, mas a parte que não acredita em sentimentos e sim acontecimentos.
A parte que acha que "sexo é ato e carinho é fato", que não aceita o amor como ele deveria ser, que não sente as coisas como elas são escritas e descritas, porque eu também pensei que o amor era apenas um conjunto de convenções, mas lembrei que muita coisa não me convém e se amor fosse isso, talvez eu nunca amasse.
Hoje, esse lado pesou, hoje ele tocou explicitamente essa parte e foi me corroendo aos poucos, eu percebi quando comecei a não escutar mais o que ele dizia por proteção, quando comecei a ficar com raiva de ter ficado aquela tarde contornando o rosto dele com a minha boca, quando a verdade começou a doer. Porque eu passo meus dias ocupando minha cabeça com besteiras, com pessoas, com situações que não existem, mas podem existir, só pra não ouvir o que minha consciência tem a dizer. Eu não gosto das minhas verdades e hoje ele esfregou elas na minha cara. Depois não bloqueei mais nada, fiquei tão fraca de tristeza, que não tive forças para não sentir o que quase sempre sinto perto de algumas pessoas, um frio que sobe e enfraquece mais, não sabia se eu entreguei os pontos ou me entreguei. Foi mais intenso do que todas as sensações de medo, de tristeza, de vergonha, carinho, amor, cuidado, saudade... Foi tudo isso junto, em um minuto que eu percebi que ou nós dois somos completamente loucos, ou eu achei alguém que ande pelo mesmo fio que o meu.
Ai, eu não sei de nada, eu precisava contar o que passava na cabeça por agora, mas foram tantas coisas em uma hora que nem tem como traduzir.
Cheguei em casa e chorei.
E agora tô com medo de não consegui bloquear esse outro lado da minha cabeça.