domingo, 21 de novembro de 2010

Para Renan...

Acho meio bobo fazer este tipo de coisa, porque sei que ninguém, além de mim e de ti, lê esse blog.
Queria te agradecer pelo carinho e pela consideração de ler as coisas que eu escrevo, comentar, mesmo que seja apenas para eu retribuir, porque o que eu falo aqui é de todo coração e saber que alguém além de mim entende o que eu digo é uma alegria e tanto.
 Eu poderia apenas ter escrito isso em algum comentário no teu blog, mas agradecimentos não existem pra serem esquecidos, então deixo registrado no meu espaço o apreço que tenho por ti, que apesar de escrever e se expressar milhares de vezes melhor que eu continua vindo aqui deixar a marca registrada. Muito obrigada, mesmo.

o selo *-*
Toda certeza se perdendo, esvaindo, esvoaçando, coração. Eu falo tanto em perder sem nem saber o que é ter, é como o bicho papão, nunca vi, mas imagino ele com ... Não, eu não imagino o bicho papão. Então é como o pudor, eu nunca tive, mas finjo saber como é, quer dizer, as pessoas comentam, não é verdade?
A gente escolhe tanto, coração, revê, distorce, enrola, pensa, escreve, mas tudo acontece do jeito que deve ser, então para que tanta linha nesse caderno? Para que tanta idéia nessa cabeça? Pra que tanta perda e tanto pudor, coração?
A vida leva, o tempo traz, o acaso tira e depois eu percebo que acasos não existem, então a vida leva e lá se foi mais uma caminho que não era meu, mais uma história que deixarei de contar, porque só de lembrar já dói, e lá vem mais outro atalho, mais uma história que eu repasso, porque não era muito para mim, sabe coração? Eu não sei mais se faço o destino ou ele quem me faz, também não sei se destino é homem ou mulher, talvez nem sexo tenha para poder ser imparcial...
Oh coração, a gente conversa, desconversa, desanda, personifica e nada muda, porque quem continua falando sou eu, quem continua traçando o caminho, escrevendo nas linhas, andando em corda bamba, sou eu e você, coração... Tão cabisbaixo, tão solitário, sofrendo as mágoas que eu te dito, que eu te imponho.
Coração, não queria, mas acho que devemos nos separar...


terça-feira, 16 de novembro de 2010

send to: bragapsicanalise@...

Se eu choro escondida? Não, não, eu choro mesmo pra todo mundo ver, nunca fui de esconder essas coisas de ninguém, sempre tive medo dos meus filhos acharem que é errado chorar. Mas a verdade é que nem chorar eu tenho feito ultimamente, acho que sofri tanto por antecipação que não sobraram lágrimas pro fim.
Eu chorei desde o dia que o nosso casamento deu o primeiro sinal de que estávamos chegando na reta final do "caminho juntos". Quando o sexo não era nada mais que uma atividade pra melhorar a digestão, depois que os meninos cresceram e a gente parou de fazer planos, quando notei os olhos acostumados, a rotina desgastada e aquele clima de monotonia em todos os cantos da casa. Aquilo era o fim, pra duas pessoas que não paravam quietas estarem naquele estado, só beirando a morte mesmo.
Chorei por antes, chorei por depois. Achei que não ia superar, que não ia conseguir viver só, porque todas as minhas amigas diziam que quaretona só arranja namorado depois dos 70, isso porque homem precisa de alguém pra trocar as fraldas... Mas era muito mais dolorido ver a energia da pessoa que havia sido o pai, o amigo e o amante, que eu sempre precisei, esvair-se e perder o brilho. Foi quando eu comecei a pensar na possibilidade de  alguém lá fora estar precisando de toda aquela positividade que ele sempre emanou pra mim, a atenção, o carinho, os olhos de agradecimento por tê-lo acolhido durante esses anos, lembrei das coisas que pensava quando menina, a teoria toda de que as relações são dinâmicas e que o amor tem de fluir, coisa de gente que tem a mente aberta e o coração fechado, eu pensei tanto e chorei tanto.
Me culpei por não ter acordado mais cedo aos Domingos e feito o café, por não ter dançado sensualmente como prometi desde quando eramos apenas amigos, das noites que deixei de conversar por preguiça, dos dias que não liguei pra desejar bom dia, senti culpa por separar os meninos do pai, por não aguentar essa comodidade toda, me senti mal até por ter gastado um monte de papel limpando o nariz, eu pensei: meu Deus, como eles vão reciclar esse papel todo encatarrado? E chorei, porque o mundo já tá tão poluído, sabe?
Depois, quando as coisas dele foram deportadas, quando eu visitei o apartamento novo, que eu ajudei a mobiliar, foi que eu percebi: aquele homem já não mais me pertencia. Pensei melhor e pude notar que ele nunca me pertenceu, que as únicas coisas minhas mesmo eram as roupas que eu vestia naquele momento e meu coração batendo forte, medroso, cheio de receio de ser esquecida. Mas aprendi uma lição pra toda vida: uma vez casada com um bom homem, você é esposa pra vida toda. É que nem ser filha... Não é porque sua mãe morreu que você deixa de ser filha de alguém...
O nosso amor não morreu, sabe? Ele descansou, apenas, e todo descanso merece respeito.
Eu não choro por estar feliz, porque sinceramente eu não estou, depois de passar anos com uma companhia no outro lado da cama é difícil dormir sozinha, mas eu estou satisfeita.
Se eu tenho alguma coisa pra dizer ainda pra ele? Não e mesmo se tivesse ele já saberia.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Após o sinal deixe sua mensagem...

"oi linda, tudo bom? Queria saber se o cinema de sexta tá de pé? Quando puder me liga, beijos."
...
"gatinha, tô te ligando desde tarde, nossa, tô morrendo de saudade, quando que a gente vai se ver? Vou tentar falar contigo mais tarde"
...
"oi, é o menino da festa de ontem, disse que ia ligar, tá vendo?! Cumpro com a promessa..."
...
"Amor, por onde cê anda? Tô tentando falar contigo desde ontem, me liga, te amo..."
...
"linda, sou eu de novo, manda um recado por Orkut sobre o cinema, sério mesmo, tô afinzão te de ver"
...
"amiga, quando puder me liga, babadão pra contar..."
...
"não sei pra que tens telefone, nunca atendes quando a gente precisa, esquece que tem mãe..."
...
"ér... Oi, eu não sei bem o que falar em mensagem de voz, então... Sei lá, preciso falar contigo e..."
-Alô?! Oi?!
-Oi, pensei que não estavas...
-Ah, tava no banho, acabei de sair.
-Ah, sim...
-Disseste que querias falar comigo?
-É, então... Pois é, queria, não pensei que seria com tanta rapidez assim, não era urgente sabe?! Era só falar mesmo, nada demais, nada... Sei lá...
-Sei bem, mas e aí, como tá?
-Ah, não sei, tô chateado com uma pá de coisa, te liguei pra me acalmar, gosto de ouvir tua voz, és sempre tão legal comigo.
-Ah... Normal, o que aconteceu?
-Muita coisa, trabalho tá indo mal, monte de papel pra entregar, levei um pé na bunda e tals... Essas coisas chatas da vida...
-Hum... De pé na bunda eu entendo...
-Ér... Pois é, agora tô entendendo disso também, então... A gente bem que podia sair né?! Por o papo em dia, sei lá, como nos velhos tempos...
-É, podia, mas tô ocupada ultimamente, agenda lotada, mas qualquer coisa, sabes meu número... Tenho que desligar já, tem gente na outra linha, beijos e espero que as coisas melhorem viu?! Tchau...
Mais um que não será atendido.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cacos



O vento bateu e derrubou o copo de vidro, que se espatifou em pedaços relativamente grandes e alguns, consideravelmente, pequenos.

Esperança, levantou-se da cadeira e foi catar os pedaços visíveis e os pequenos cataria depois, antes de alguém pisar. Então, quando se ajoelhou e curvou o corpo para pegar os pedaçinhos, sentiu uma sensação de deja vú, como se já houvesse juntado cacos muitas outras vezes e não- definitivamente não- havia sido um sonho. Percebeu, então, que aqueles cacos de vidro eram parecidos com uns tantos cacos que ela havia juntado de seu antigo coraçãozinho de cristal.
Como tantas outras vezes, começou pelos cacos maiores, colocando-os no saco, depois grudou uns bem pequenos nas pontas dos dedos e os quase invisíveis varreu para debaixo do tapete, exatamente como fez com os caquinhos de seu coração, agora não mais de cristal.
Jogou os cacos fora, os do copo, não os do seu coração, esses foram colados com todo o cuidado e destreza que só os donos de corações estraçalhados tem. A experiência forniu firmeza manual e precisão para colar seus cacaréus e o tempo mostrou ser o melhor colador. Andava pensando em trocar seu coração em moisacos por algo mais firme, sólido, forte, que não quebrasse com facilidade ou que nem quebrasse, porque tinha sua vista cansada de tanto alguergar coração.
O coração de Esperança havia se tornado obra humana, não mais de Deus, de tanto que montou e foi desmontado, essas destruições, quase impossíveis de serem evitadas, vão enfraquecendo e Esperança tem medo de perder as estribeiras com esse desmonte todo e quiçá perder, também, sua esperança.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

- Lia?
Odeio encontrar conhecidos no mercado, eu sempre estou com o mesmo short jeans rasgado na parte da frente e uma blusa bem velha, parecendo uma flanelhinha.
- Beto?
Pior ainda quando esse conhecido é um ex rolo seu, que te deixou com uma desculpa besta de não ter tempo e agora namora com a vizinha bonitona do sétimo andar.
-Nossa, quanto tempo né?!
É, desgraçado, faz tempo mesmo, tipo assim, desde que me deste um pé na bunda!!
-Verdade, muito tempo mesmo- sorriso simpático, Lia, estás ótima de vida, vai que ele acredita.
-Nunca mais nos falamos, como estás?
Muito bem, mas não graças a você. Hoje pago a última parcela da conta do analista que passei a frequentar depois que me largaste, quitei a dívida com a telefonia celular, porque precisei falar com as minhas amigas as duas horas da madrugada para que elas tentassem entender comigo o motivo pelo qual me largaste, olha, cuidado hein?! Esse negócio que de madrugada paga menos... É tudo mentira.
-Ah, tudo tranquilo, graças a Deus.- sorriso mais que simpático, Lia.
-Poxa, que bom, Lia, como sempre linda.
-Ah, que é isso?! Brigada.- E você, como sempre, mentiroso.- Mas me conta, como tão as coisas?- a piranha já engordou ou te colocou um chifre?
-Tudo bem, tô trabalhando em outro lugar agora, ganhando melhor. Indo pra academia, né?! Tem que ficar bonito.
Salafrário, comigo só queria saber de breja e farra, tava cansado demais pra correr na praça, não tinha dinheiro pra nada, mas eu rachava feliz a conta do barzinho, que por sinal nunca gostei de frequentar. Vagabundo.
-Olha, que bom, pelo visto a mulher botou banca, hein?! Tá certo!- certo devia ser o soco que era pra dar na tua cara agora, filho da mãe.
-É né?! Sabe como é...
NÃO, NÃO SEI NÃO, aliás me explica desde o começo toda esse fuzuê que foi nossa relação, vamo alí sentar no banquinho pra gente bater esse papo. Começa me explicando porque planejaste tantas coisas se não ias ficar para ver elas sendo realizadas, depois me faz entender o motivo de tanta palavra bonita antes de me levares pra cama e o motivo do teu celular, uma semana após o acontecido, ficar sem rede no meio da cidade grande. Se puder, me diz também onde foi que eu apertei teu tempo, já que pra outra estavas disponível. Me diz, Beto, porque a verdade é tão difícil de ser dita, o que custa dizer: ah, Lia, tu é legal, bacana, engraçada, mas não rola, não gostei, sabe essa coisa de química? Então, não aconteceu. Eu ficaria puta de uma vez e ia fazer milhares de macumbas pro teu membro cair e ficares careca, mas depois passava Beto. Porque tudo passa, mas a mentira continua sendo mentira por um tanto de tempo que machuca, a gente precisa ouvir, fala, a verdade é muito mais fácil de superar...
-É, sei bem como é.
-Então, foi muito bom te ver, Lia, nem esperava te encontrar. Tenho que ir, beijos linda.
-Tudo bem então, beijos, Beto.

sábado, 6 de novembro de 2010

Depois que você desligou o telefone, desligou a mente, desligou o coração notei, de longe, que todas as oportunidades haviam ido embora, em meio segundo, antes de desligares, então a culpa não era do fim e sim dos segundos antes dele.
Mas diferente de todas as outras vezes que bati o pé e perdi o tempo, aceitei. Aceitei com a cara mais lavada e abandonada que tenho, aceitei por não ter motivos para não o fazer. Afinal a culpa não era minha. Afinal a culpa não era sua. Afinal nem existia culpa. Foi só mais uma dessas situações que a vida nos ocupa sendo ela, que não temos outra saída a não ser dar prioridade para o que nos é imposto.
A gente vai aceitando,vai engolindo, sentindo falta, depois saudade, depois conformidade... E depois a "fichalidade"- a ficha cai, demora, mas ela sempre cai.
Percebi que não era a vida, nem o tempo, nem os segundos antes do fim, a verdade era, e continua sendo, que você sempre foi legal demais para dizer que alguém não lhe interessava ao ponto de quereres sair da comodidade que é poder ficar com qualquer mulher, em qualquer lugar, sem ter que dar satisfações ou sentir culpa por isso. Ser legal demais também tem suas desvantagens. Porque um hora você perde a majestade da coisa, o controle da imagem bacana que quer passar, e destroça a esperança alheia de encontrar alguém legal de novo.
Não quero mais pessoas legais demais, compreensivas demais, ansiosas demais, que falam bonito demais, que tentam te convencer demais, porque elas gostam de menos. E se for pra gostar de menos, deixa para lá, porque eu já faço isso comigo muito bem.
Quer dizer, se eu me amasse, como deveria ser, não me contentaria com o antes-de-começar, porque o "antes" não passa disso mesmo, o "antes" é só um cartão postal do que vai ser e cartões postais nunca mostram as enchentes de lágrimas, o lixo da culpa, a pessoa sempre certa que habita cada um de nós, cartões postais são lindos e te fazem querer ir para aquele lugar com a promessa de ser feliz. Mas se eu me amasse, só um pouquinho, não me entregaria para qualquer promessa, porque antes de qualquer promessa eu tenho dívidas comigo mesma e qualquer tempo antes de qualquer coisa é lucro. E se eu me amasse, como deveria ser, perceberia que acima de qualquer pessoa que possa me fazer feliz, eu tenho esse poder e as pessoas só podem me fazer feliz, quando eu deixar isso acontecer.
A gente vai aceitando, vai engolindo, sentindo falta, depois saudade, depois conformidade... Na esperança de que a fichalidade chegue e a gente acorde.