terça-feira, 29 de junho de 2010

- És o frio, Miranda.
- Frio? Não pensei que te fizesse mal.
- E não faz.
- Então?
- Do que sentes falta no frio?
- De calor.
- Pois então.
- ...
- Me fazes querer calor e, sendo o único corpo aqui, me trazes pra perto de ti.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Afinal de contas, ficou tudo bem

O que está acontecendo afinal de contas? Perdi livros, pastas e até minha pinça de aço novíssima, me bato na mesa, na cama, na escada e ainda continuo achando graça da velha que caiu do palco no dia da minha apresentação.
Eu fico de boa, eu fico com raiva e tem dias que me sinto a pessoa mais especial do mundo, acho até que sou a melhor companhia para alguém que procura boas companhias e tem dias que agradeço pelos meus ex-qualquer-coisa por eles estarem longe.
Minha gastrite vai atacar, eu sei disso, mas não sei onde o remédio tá, eu não sei onde tá mais nada.
Afinal de contas ficou tudo bem.
Eu encontrei uma outra pessoa legal, que me entende, que conversa, que conta as coisas e beija bem. Eu já escapei algumas vezes, fugi até da festa para encontrar com ele em um apartamento vazio, tudo sem medo e divertido. Não me preocupo mais com tantos sentimentos assim, não fico com raiva pelo menino mais novo que não me procura mais, nem com a história que ouvi sobre o meu "grande acontecimento do ano"- quase ex-namorado- tudo bem que, quando ouvi o nome dele de novo junto ao nome de outra mulher, fiquei... Sei lá, constrangida acho, não foi chateada nem com raiva, foi uma coisa mais branda com uma pitada de vergonha e um geladinho na barriga, mas depois dei graças a Deus por não ter mais nada com isso.
Afinal de conta as coisas se acertaram, eu estou menos medrosa, menos pessimista, menos implicante, menos estressada e menos aquela pessoa com quem vivi durante muitos anos, meu antigo eu.
Mas, apesar de toda a felicidade e satisfação, junto com isso vem um vazio minúsculo do estilo daqueles cortes pequenos que ardem de vez em quando e que todo mundo toca justamente onde ele está. Arde, quando vejo minha melhor amiga- ciumenta, egoísta e impaciente- olhar de um jeito bobo para o namorado mais novo dela que a faz sentir ciúme um dia sim, um dia não. Eu não sinto ciúmes. Arde, quando escuto os problemas de um relacionamento, as vezes até os mesmo que já tive, de uma amiga que não sabe mais o que fazer com o namorado mentiroso. Eu não tenho problemas. Arde, quando percebo que ao meu redor existem pessoas que procuram exaustivamente achar um amor, alguém legal pra passar o tempo e dividir a pipoca do cinema, que é muito grande. Eu não procuro.
Afinal de contas talvez eu só esteja aprendendo a lidar comigo novamente, depois de passar anos tentando me encaixar e ter uma história parecida com algum roteiro de filme, tomei vergonha na cara e resolvi assumir meu lado indiferente as coisas nem tão necessárias assim. O mal de gostar de romances, de novelas, de filmes de comédia romântica é que você se liga muito nos detalhes, no meigo que seria seu namorado lembrar que a cor do seu sapato no primeiro encontro de vocês era marrom meio esverdeado com uma florzinha amarela- nunca use um sapato desse- você, depois de ler muitos textos da Tati Bernardi, do Caio F. de Abreu e assistir 5 vezes "de repente 30" acaba achando lindo como os problemas unem as pessoas, como a história fica bonita no final, como é suave e grosseiro a tristeza, a melancolia de estar só, de se sentir sem metade, de achar ter tido uma metade.
Foi então que comecei a ver coisas onde não tinha. Nesse momento pensei que o que me aconteceu era um desafio que deveria ter passado para ficar com o homem da minha vida, achei no azul do olho dele uma calma tirada das profundezas de Rory Gilmore, sentia falta de coisas bestas, coisas que poderia encontrar em outra pessoa de um modo até melhor. Comecei a ver tantas coisas que me perdi na real história, não sabia onde começava o que realmente acontecia com a gente e onde terminava meus devaneios.
Hoje, depois de tudo, de todos e mais um pouco, percebi que Tati Bernardi, Caio F. de Abreu e as cinco vezes que assisti "de repente 30" me levaram a ser uma pessoa que eu queria encontrar em mim, uma pessoa apaixonada, ligada em detalhes, que pudesse entender a dor dos alheios, mas que eu não era. Procurei por muito tempo achar qualquer coisa parecida com as coisas que lia, que escutava, que via, acabei achando em algo que não tinha nada a ver.
Provavelmente, futuramente, posso até gostar do meu canoa, sabe? Da carinha que ele faz quando passo a mão no cabelo dele, do modo como ele fecha os olhos ao sentir minha boca no pescoço, quando respiro perto, das sardas nos ombros, da magreza, da barba, dos gemidos baixinhos e dos dentinhos tortos. Pra falar a verdade meu eu antigo já gosta dele e sente um grão de saudade.
Ficar vazia tem me dado mais espaço para eu saber quem eu realmente sou, quem eu quero ser, é como redecorar uma casa, jogar fora todos os móveis que sua mãe te deu e comprar sozinha as coisas do seu gosto, tudo na vontade de se sentir mais em casa, pra aquele lugar parecer mais seu, não porque você tenha um documento dizendo que é, mas pelo fato de ter o seu cheiro, as suas cores e mais do que um porta retrato juvenil e animado na mesa de centro.
Joguei fora o vaso piegas cheio de rosas mimadas, doei o sofá bege que cheirava a comodidade, pintei o tapete- eu mesma- e ele sorri para mim toda vez que entro em casa, me livrei do gato de olhos azuis, nunca gostei de gatos, comprei um cachorro carente que coloca a cabeça por baixo da minha mão para receber o cafunédormíamos até eu sair de casa, é um quadro simples, de ninguém importante, dado por alguém desconhecido. É um vaso, com flores azuis, rosas e brancas e não combina nada com minha parede, mas faz com que eu sinta a presença dela perto do sofá, junto de mim, em tardes de Domingo.
E as coisas andam assim, afinal ficou tudo bem.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Não te desejo mal algum. Espero que tenhas uma vida feliz.
Mas espero também que, em algum momento da tua vida, te sintas um nada como eu me senti, que alguém pise em ti como eu fui pisada, não é por maldade que desejo isso. Desejo isso para que, quando te sentires um nada, percebas que ser nada não é pior do que ser exatamente o que continuas sendo: uma pessoa vazia.
Espero que enquanto sejas nada tenhas a capacidade de esquecer teu umbigo e percebas que ao teu lado existem outras pessoas que também estão assim. Espero que tenhas serenidade para não deixar a raiva tomar conta aos poucos do bem que te habita, do pouco bem que te veste. Vais precisar de tudo isso para fazer com que as pessoas ao teu lado se sintam melhor.
Quando parares de olhar a tua mão, a tua cabeça, os teus pés, a tua dor, conseguirás ver que podes compartilhar tristezas e esperanças, verás que o nada, nada mais, é do que solidão e solidão cura-se com companhia.
Espero que quando tudo isso te aconteça, percebas, como eu percebi, que não queres que ninguém seja nada junto de ti. Espero que essas lembranças de agonia aflorem toda vez quando sentires o nada em outra pessoa, espero que isso te faça ser mais humano, mais homem. Não o homem no substantivo da palavra, não o homem de sexo, mas o homem de ser humano, homem de coração, de cabeça, esse homem.
Ser nada me fez tudo que sou hoje, ser nada quebrou o círculo vicioso de repassar o maligno, quebrou a expectativa de vingança e ser nada me surpreendeu.
Espero que o nada te habite e que abra espaço para seres tudo que as pessoas merecem de ti, espero que a partir de nada passes a merecer tudo que as pessoas fazem por ti e que o nada te dê uma segunda chance de mudar a tua história, não somente a tua, mas a de todas as pessoas que por ti passarem.
Todo mundo um dia deveria ser nada. Todo o mundo um dia deveria ser nada.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pé de moleque.

Agora entendi porque é muito mais fácil encontrar textos que falam sobre coisas tristes, de um modo triste e dolorido. É tão mais fácil e bonito desabafar, são palavras ensaiadas de muitos dias, são tantos cheiros, toques e cores que se atrelam às coisas tristes, flui rápido.
É preto e branco, que em alguns dias se misturam e viram cinza, é clássico e básico, e simples, e intenso, e frágil.
Alegria é cor, calor, fótons de sorrisos e uma série de acontecimentos inexplicáveis que acabamos guardando para nós mesmos. Alegria me lembra Bahia, uma caixa cheia de coisas cafonas coloridas e fotos antigas.
João disse que escrevia para compartilhar, eu escrevo para deixar guardado o que pensei e outras pessoas escrevem para desabafar, mas se formos procurar algo em comum em quase todos esse textos, quase todos, encontraremos frases sentidas, algumas suaves e outras agressivas, mas que passam o mesmo ardume para quem lê.
Será a alegria algo que só serve para se sentir? É tão grande ou tão pequena que não cabe em um quadrado onde se digita?
É tão estranho como a gente pode escrever a alegria de uma forma triste, é estranho querer compartilhar, guardar, ou desabafar o ruim.
E o bom, cadê? E as pessoas que precisam saber se vão ficar bem depois de todo o ardume que sentem não só ao lerem os textos, o ardume que sentem no dia-a-dia, o ardume de terem perdido alguém, de se sentir só, de não ter nada, o ardume de arder somente, e essas pessoas vão ler o que? Já não lhes basta somente o próprio corte? Acho que não. João tem razão.
Até o modo de falar sobre alegria é doloroso, falar de uma tarde que você riu tanto que sua barriga doeu, da vez que você estava tão feliz que não conseguia parar de sorrir e ficou com as bochechas doendo...
Ai, o João tem razão. É tão mentira essa alegria escrita, falta tanta coisa nela, não sinto a doçura, nem a leveza de quando estamos felizes, de bem com qualquer coisa, não sinto a doçura em texto nenhum.
Talvez as alegrias sejam tão particulares que não nos passam o sabor real, o doce disso talvez seja subjetivo, mas o azedo é igual, todo mundo sabe, limão é limão em qualquer lugar, fel todo mundo conhece... Mel enjoa, cocada é doce demais...
Ou talvez precisamos equilibrar a felicidade e tristeza, para não ficar tão doce ou tão azedo, algo como pé-de-moleque, amendoim e açúcar.
Não, acho que não, João tem razão, não tem?
Vou deixar, por fim, a alegria em paz, acho que ela não se sente a vontade dentro desse cubinho onde escrevo, tudo bem.


Tá de bom tamanho, não sou Maria e nem Madalena.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Deixa eu gritar, mulher, que quando a coisa é boa, a interjeição vem de dentro e não dá pra segurar.
Chama todo mundo, tira as cadeiras daqui, não quero ninguém sentado, noticia boa a gente dá pro pessoal pular, não dá pra segurar. Chega o vazio da casa foi embora e olha que ninguém chegou, mas o ar tá cheio, acho que me falta o ar de tanta alegria. Vem cá, mulher, me dá um abraço.
Escute bem e abra a porta, pode ser eu.
Relaxe e deixe, que o olho mágico me conhece de muitas vindas.
Não espere, mas eu volto. Meu pé coça para voltar.
Sinto falta do seu colo, da sua boca e de seu sofá.
Meu pé coça para voltar.
Pensando bem, me espere! Quero que me veja chegar, para ser como eu tanto espero: você correndo para mim.
E agora, que você anda por alguma parte da casa cheia de livros e tristeza, eu ando por mim, tentando e pensando em ser melhor para você. Você me aceita? Meu pé coça para voltar.
Sinto falta do seu colo, da sua boca e de seu sofá. Você me aceita? Eu pergunto no meio desse vai-e-vem que é ter orgulho e sentir amor.
Pensando bem, me espere! Esqueci a chave ao sair, deixei roupa, deixei fardo e me deixei um pouco aí, mas a chave eu não levei, eu esqueci. Você me aceita, não é? Bem que eu queria.
Bem que eu queria não ter que, nem, entrar por portas. Bem que eu queria aparecer, para você, no meio da sua bagunça de quarta-feira, entre o varal e a lavadeira, eu queria aparecer, nem que fosse sexta-feira, para ver você sair ou chegar de qualquer maneira, eu queria aparecer e não entrar pela porta.
Você me aceita?
Se sim, então escute bem e abra a porta, ou se não me espere e me mande embora, e diga que o olho mágico cansou.
Mas você me aceita?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Alguém como você do lado

Vamos lá, pega minha mão... Eu sei que você quer, ela passa segurança, não é verdade? Por mais que seja por pouco tempo, ela passa proteção, não é verdade? Mesmo que sempre eu vá embora, ela deixa gosto de quem vai ficar, não é verdade?
É verdade.
Um dia você terá mãos assim, quando tiver alguém como você do lado.
Eu sou grande olhando debaixo, não é verdade? Não pelo meu tamanho, você sabe, eu só tenho 1,58. Meu coração é grande bem como as marcas que nele encontras, eu sou grande quando me sentes e sentes tudo que guardei para alguém que não usou.
Mas você será assim também, quando tiver alguém como você do lado.
Te seguro firme e me sentes forte, te beijo a boca e sou terna. Mas eu sou tão decidida que te deixo confusa, não é verdade? Porque me decido muitas vezes, nas poucas vezes que nos encontramos.
Você confundirá alguém, quando tiver alguém como você do lado.
Deixa de besteira, por que não diz que veio aqui para me ver? Para que usar de mentirosas omissões e silenciosas desculpas esfarrapadas? Não tenha vergonha, deixa eu te falar também que estou aqui, no lugar de sempre, com a novidade de te esperar, que hoje sento na escadinha olhando de banda para ver se noto tua sombra em meio as outras, não tenha vergonha.
Você deixará de besteira, quando tiver alguém como você do lado.
Eu gosto dos seus beijos, eu gosto dos seus carinhos e do modo como sua pele eriça quando beijo seu pescoço. Eu gosto da sua beleza que não me satisfaz, gosto da sua voz e as vezes que me faz rir. Gosto do seu perfurme, dos seus cento e poucos sinais e sorrio sozinha ao lembrar da vez que correste para me beijar antes de eu ir embora. Eu gosto quando voltas e pedes mais um beijo, eu gosto de te beijar.
Você vai entender tudo que escrevo, quando tiver alguém como você do lado.