quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Havia escrito amor em cada canto da casa. No porta-retrato em cima da cabeceira, nas canecas de café com nomes gravados, nas fronhas novas, nos dois travesseiros por cima da cama- que não eram meus- nos livros empoeirados na estante, por cima dos planos, por cima dos panos, por cima de mim, no corpo todo.
Quando a porta bateu, senti um jato d’água apagar cada letra de tinta frágil, marcada no porta-retrato, nas canecas, nas  fronhas, no único travesseiro em cima da cama, na estante vazia, nos planos- agora desfeitos- nos panos- agora rasgados- em mim, no meu corpo todo, agora em pedaços.
Tudo acabou assim, com um jato d’água apagando cada vogal e consoante que havia escrito durante todos esses... Esses tempos.
Talvez se tivesse reforçado com caneta permanente, ou ditado e mostrado os locais marcados com amor, talvez se eu tivesse apenas lembrado que aquelas letras, aquela palavra, não eram apenas um detalhe.
Talvez, uma hipótese apenas, se tivesse deixado de pichar toda a casa e usado toda a tinta para escrever, o que tanto eu sentia, dentro do coração dele. Talvez, ele não teria apagado todo o resto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário