quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Olha, só acho que essas sensações existem, tudo isso existe, todas essas coisas que a gente sente quando "ama" alguém, quando fica "triste", ou com "raiva", ou qualquer coisa parecida. Todas elas existem e se elas existem não são mentiras. O problema é que cada um dá nome aos bois como acha que deve. Cada um mistura as sensações e dá o nome que acha que deva ser, mas as vezes, muitas vezes na verdade, as pessoas querem tanto sentir algo grandioso, que acabam diminuindo o número de sensações atribuídas a um certo nome e dessa maneira profanam o que realmente aquela palavra significa, o peso de sensações que aquela palavra deveria ter, entende? A mentira está na ansiedade que muitas pessoas sentem.
Até onde minha idade permite, pude perceber que muito dos nomes que eu usava eram na verdade combinações pequenas de sensações, não eram o todo que a palavra realmente representava. Eu nunca senti uma tristeza completa, como ela deveria ser. Eu nunca fiquei com raiva com todas as sensações que isso implica.
Existem palavras que abrigam números pequenos de sensações e por mais que pareçam as mais fortes, são as menores e as mais simples, como a raiva e a tristeza.
Para mim, veja bem a pessoalidade, o amor é o nome que mais abriga sensações em seu sentido completo. Quem ama sente raiva, tristeza, agonia, felicidade, vergonha, saudade... O amor, para mim, é uma coleção de sensações que aumenta de acordo com que você se permite sentir tudo que o mundo tem a oferecer, tudo que podemos sentir pelo próximo e por nós mesmos. O amor é um nome que dura a vida toda para ser completo. Acho que eu amo em parcelas assim que as sensações aumentam em mim, assim que eu me abro pro mundo, que eu me aceito e aceito o outro com todas as sensações que ele pode me causar, desse jeito aberto mesmo, assim eu amo e esse é um processo que dura a vida toda.
Baseada nessa besteira que acabei de falar, penso, então, que talvez seja por isso que encontramos pessoas tristes e "raivosas" mais facilmente, do que pessoas felizes, satisfeitas e amorosas, porque o nível de complexidade de tais sentimentos são baixíssimos, o que os torna alvo de pensamentos mais simples e de pessoas mais frágeis.
Outra coisa que dificulta a real sensação das coisas é um sentimento pequeno, de palavra pequena também, que vive em mutualismo com outro sentimento pequeno: a ilusão. O medo anda de mãos dadas com ela, essa combinação de medo e ilusão, chamada por alguns de "felicidade" ou "tristeza", mistifica os reais conjuntos de sensações atribuídos a uma palavra. Mas como todo sentimento, para eles existirem e coagirem para o lado negativo você tem que se permitir senti-los e assim como todas as sensações é opção sua tê-las ou não. É preciso saber o que para você é medo e ilusão, é preciso distingui-los, porque desse modo eles não se darão as mãos e distantes eles não sobrevivem.
Você pode amar por incompleto, mas não deixa de ser amor, sabe? Porque para ser completo tem que começar de algum lugar e para ser real tem que se depositado confiança, credibilidade, portanto, se você puder unir todas as sensações que você já sentiu na vida em um só momento estará no caminho certo.

Aqui dentro é branco

Não é frio, nem quente, nem nada. É vazio, um vazio branco e quieto, como uma sala fechada, mas não muito arejada. Não me sufoca, eu respiro bem, ando bem, vejo bem, penso bem, mas não sinto nada. Não estou sedada. Nem em transe. É um vazio quieto e branco.
Eu vejo aqui de dentro todas as coisas que um dia achei bonitas se fragmentando em pedaços de cores, uma refração de sensações. Aqui dentro é branco. Essas cores colorem o mundo, as pessoas, as coisas de maneiras diferentes, cada um combina a cor como quer, como acha que deve e quem sou eu para dizer que é certo ou errado? Aqui dentro é branco. Cada um escolhe a mistura de cores e atribui um nome especifico, alguns acham que vermelho e rosa é amor, vermelho e preto é ódio, preto e cinza é tristeza, e assim as pessoas pintam as coisas e as coisas ganham nome e essas coisas pintam as pessoas. Aqui dentro é branco.
Eu me lavei, me livrei, me suicidei das cores, das coisas e das pinturas todas. Aqui dentro é branco.
Pode ser paz, recomeço, vazio e até mesmo tristeza. Aqui dentro é branco.
Pessoas de fora, aqui dentro é branco, eu aviso todos vocês, todos os dias, que aqui dentro é branco, mas ninguém vê isso, as cores tomam conta dos olhos, as cores tapam a vista. Aqui dentro é branco.
Nada me cega, nada me engrandece, nada me diminui, nada me atiça, nada me entristece, nada. Absolutamente nada me doí.
Sabe Deus, se vou colorir esse branco. Sabe Deus, se vou sentir todo mundo de novo. Sabe Deus, se aqui é certo, errado, ou nada disso. Sabe Deus.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"Se pra ele tanto faz, pra mim é que não vai fazer diferença, não é verdade?"
Não, não é verdade. Eu não sei a quanto tempo ando me enganando quanto a não me importar com o que os outros deixam de sentir por mim. Tudo bem, que o que os outros sentem é assunto deles, mas não seria justo ser meu assunto também, quando o gosto está diretamente ligado a mim? Eu não mando em ninguém, é fato, não tenho capachos, mas incomoda muito gostar sozinha, sabe? Isso é egoísmo, não querer gostar só? Eu nunca sei.
Eu fico proferindo essas bobagens e as pessoas escutam, devem me achar super "descolada" e tudo mais, veja bem, tudo bem pra você acreditar nisso, mas não consigo me convencer dessa sentença, por mais "descolada" que ela seja, menina tô-nem-aí 2010, continua sendo mais fácil acreditar na mentira alheia.
Eu penso tanto e no final sou mais boba do que aqueles que não pensam. Eu penso tanto pra parar no mesmo lugar de onde eu vim. É, quase, tudo culpa dessa bobagem que o povo fala, de que com o tempo a gente cresce e vira gente madura, que conhece das coisas e não teme besteira. O tempo passou, mas eu ainda sou uma menininha. Eu continuo querendo prender as minhas pessoas preferidas dentro de uma garrafa e salvar todas elas do mundo chato, de gente antipática e que briga comigo sem falar. Se eu conhecesse alguém legal há muitos anos atrás eu ficaria triste também por essa pessoa não gostar de me conhecer, eu ainda ia querer ser lembrada por todo mundo só por ser eu, ia continuar tendo a vontade, que tenho agora, de deitar no colo da minha mãe e pedir pra ela me trazer de volta o outro. As pessoas continuam sendo bonecos pra mim. Pessoas, eu sou uma menininha. Não me recusem depois de me aceitarem, eu sou birrenta. Não me forcem a ser a parte grande, que todo mundo tem depois dos 15, porque dá muito trabalho, sabe? Essas ideias partem do princípio de que meus atos serão consequências dos seus atos, porque eu sempre espero alguém mover um dedo pra eu mexer minha mão. É, isso mesmo, sou paradona, não sou "descolada" e se a pessoa que eu gosto tratar todo mundo como ela me trata eu vou ficar fula da vida.
Pra não é "tanto faz" se ele não liga pra dizer o que tá acontecendo com a gente há duas semanas ou mais, eu perdi as contas dessa lance chato que anda acontecendo. Não é "tanto faz" se ele não dá noticias, porque percebeu que estar comigo é carregar metade do meu mundo nas costas dele, ou porque refez a vida e notou que não tem espaço para sentimentos complicados e compromisso feito casamento. Não é "tanto faz" que, talvez, não seja nenhuma dessas opções citadas e sim o fato dele querer um tempo pra ele ou poder estar muito ocupado, não tá "tanto faz".
Tanto faz é uma coisa que nem cheira, tanto faz é uma coisa que nem coça, tanto faz é algo que nunca passa pela minha cabeça, que nunca me preocupa, que nunca é mencionado. Relação a gente tem com qualquer pessoa onde exista afeto e onde tem afeto, ao meu ver, tem que ter respeito, sinceridade e consideração. E se nada disso existir, eu estou completamente fudida, porque deposito toda a minha crença nessa teoria e a base de toda a minha dedicação vem exatamente dessa bobagem que acabei de falar.
Compromisso, sim, tanto faz. Mas meu tripé não! E ele está sendo violado ultimamente.
Eu não suporto ser cobrada e não suporto cobrar, eu odeio gente chata, que não respeita espaço e por isso faço de tudo pra não ser chata e respeitar o espaço dos outros. Eu estaria cobrando alguma coisa se pedisse uma explicação da nossa situação, pra saber se a gente ainda tem uma situação e se eu posso começar outras situações com outras pessoas. Eu estaria sendo chata se ligasse só pra ele lembrar que a história não acaba até alguém se manifestar e por o ponto final. E isso não é "tanto faz" pra mim. Eu me importo muito, não quero ter meu nome atrelado a chatice. Eu não ficaria nada feliz, eu não estou feliz no momento, com o ponto final, mas é bem melhor do que esperar alguém que pode não voltar, é bem melhor, sabe? Ouvir o que a gente não gosta sacode o coração e eu tô precisando de uma sacudida, pra substituir a necessidade dele.
Eu não quero explicações detalhadas, eu só quero um motivo que convença, que seja sincero, só isso. Eu não sei o porquê da existencia desse pensamento de que não é nada demais e que é coisa da minha cabeça, eu não sei, porque parece uma coisa bem grande, que vai me encher a cabeça e mudar alguns conceitos.
Ai, eu só queria resolver isso, mas ele não mexe o dedo. Eu sou uma menininha, né?
Cheguei em casa exalando o perfume daquele abraço- que não me queria mais- estava na roupa, tirei a roupa. Grudado na pele, tomei banho de água quente e esfreguei até ficar quase sem ela. Estava no cabelo, lavei bem o cabelo. Saí do banho, quase triste, depois pensei que havia deixado a água levar a última coisa boa de quem eu gostava. Senti o cheiro de novo. O perfume ainda estava em algum lugar que eu não sabia bem. Olhei todos os meus perfumes em cima de uma prateleira, cheirei um por um para sentir o mais forte, achei um marrom, pequeno e muito caro, ia grudar, ia no mínimo abafar o outro cheiro, ia no máximo me deixar quase angustiada de saudade, esses quases que me matam. Não passei o perfume, resolvi comigo mesma dormir só essa noite com ele em algum lugar do meu corpo, era nossa última noite, hoje podia.
Já fazem dois anos que ainda sinto o mesmo perfume amadeirado em algum lugar do meu corpo. Um dia desses descobri, está na memória.

sábado, 21 de agosto de 2010

Eu não quero responder perguntas sobre mim, nem consertar afirmações, dar minha opinião, nada. Eu não quero nem falar, nem pensar em responder. Eu enjoei de mim, se alguém quiser me levar eu deixo, eu deixo porque eu não aguento mais ter que lidar comigo e com todas as coisas que passam na minha cabeça.
Eu cansei de manipular, de maquinar as coisas, de tomar conta das pessoas, de ter o controle, eu não quero mais. Mas eu não sei fazer outra coisa, eu não sei ser outra coisa além do que eu me fiz ser durante todos esses anos- acho que 9 anos.
Eu não aguento mais minha casa, meus amigos, minhas coisas, eu não quero mais. Por maior que seja o enjôo e a vontade de ir embora eu não tenho pra onde ir e mesmo se tivesse eu não iria, é a minha casa afinal de contas e meus amigos, eu os amo tanto, eu quero tanto o bem e levaria todos comigo se eu fosse. As minhas coisas são uma parte de mim e eu levaria caso eu sentisse saudade.
É uma sensação de tédio e impotência, algumas vontades encabuladas pela realidade, não vão acontecer, metade das coisas que eu penso não vão acontecer, porque nos meus sonhos eu faço as coisas por mim, mas na minha vida eu faço as coisas pelos outros na esperança de ser um pouquinho deles, é a única maneira que eu encontrei de não ter que me encarar todo os dias.
Eu não suporto não estar gostando de ninguém, de ficar sozinha e poder pensar no que faz mal em mim, eu odeio ter que me enfrentar, porque quanto mais eu lido comigo mais eu me enojo, mais ojeriza eu tenho e eu vou ter que estar comigo durante uns bons anos, eu não posso não me querer tão cedo, ainda tenho tanto tempo.
Eu quero quebrar as barreiras, os cercadinhos que todo mundo impõe em uma relação, queimar os ciúmes, as saudades, a carência e pisar em cima do tabuleiro de joguinhos do amor. Eu queria sacudir as pessoas e perguntar se ela sentem realmente o que elas pensam sentir, se elas querem as coisas por querer ou por falta de coisa melhor. Se elas não se cansam de serem felizes sofrendo o tempo todo. Eu queria saber da onde que começou essa besteira de rotular as coisas, as pessoas, os sentimentos, as relações, os quereres, do que adianta se tudo é uma coisa só, do que adianta se cada um sente de um jeito? Parem com isso e me deixem fluir sem medo de ser machucada, sem medo de que pisem em cima de mim por eu ser sincera quanto a tudo que me doí e me alegra nas pessoas, parem com isso, pelo amor de Deus, parem com isso.
Essa vontade de ser um melhor que o outro só nos cega e me confunde, eu já não sei com quem eu posso ser sincera e dizer que eu senti saudade, não sei pra quem eu posso dizer que lembro do rosto dessa pessoa, mas não lembro de onde, eu lembro de rostos, de um jeito descompromissado. As pessoas acham que dizer que lembram de rostos as tornam bobas, afinal quem lembraria de rostos? Eu lembro, eu lembro de todos os rostos e eu queria poder dar "oi" para todos eles na rua, no shooping, no cinema e perguntar como eles vão e de onde eles vem, porque eu lembro, eu tenho o direito de saber quem são os donos dos rostos que moram na minha memória.
Eu cansei de dar conselhos e parecer ser mais esperta e experiente que muita gente, cansei de parecer grandes coisas. Eu deixei de apenas sentir, para saber o que eu estava sentido só para poder ajudar quem não sabe o que fazer com a vida, eu fiz isso por vocês. Eu me controlo por vocês. Isso não é um favor. Eu não sou grandes coisas, eu só quero que vocês sorriam, que vocês me provem que depois da tristeza tem uma alegria, que é possível gostar de alguém, que é possível e é justo sentir uma fraqueza quando o outro vai embora e quando ele volta, digam pra mim apenas isso, é possível?
Essas coisas não são mais para mim. Eu já me dividi tanto durante anos, me impus tantas limitações, me controlei tanto, que não posso mais fazer isso com quem eu gosto, eu não posso querer alguém desse jeito, dividindo as coisas, limitando os laços, controlando os instintos. Eu não posso mais. Então me deixem ser o que eu sou, segurem a minha mão e me deixem ser.
Eu não me importo que a fulana não seja bonita e não faça a raiz do cabelo dela, a fulana é feliz? Eu não me importo que o ciclano não queira nada com a vida e tenha preguiça, mas ele é feliz? Eu não quero saber se ela vai para as festas, se ela ficou com os meninos mais bonitos, se ela é linda e pode ter quem quiser, ela é feliz? Eu não me importo com as pessoas me olhando enquanto eu sento de frente pro João e deixo ele me fazer carinho, eu não me importo com o que elas acham que a gente é, o que a gente faz, o que a gente quer, porque isso é coisa minha e o que elas acham é coisa delas, cada um com a suas coisas.
Ele é meu pedaço de mentira de verdade, ele existe mesmo e me deixa ser. É tudo mentira, tudo, e por isso é mais sincero, por isso eu quero tanto, eu tenho tanto e mesmo que ele vá embora eu não me importo muito, sinceramente, porque eu não sinto que o tenha, eu não sinto que ele é meu e que deva ser, eu sou feliz só de poder ter um pouco do que eu quero sem esforço. Só isso. Ele é um carinho personificado, só isso. Ele é a minha folga de todo mundo, só isso. E quem não entende acha que isso é amor, que é gostar, mas não é. Eu gosto de outra pessoa, desse jeito de vocês eu gosto de outra pessoa, mas do meu jeito eu gosto do João. Se ele for embora eu não vou me machucar, ele não pode me machucar, porque a única pessoa que me machuca de verdade sou eu mesma tentando ser um pouco parecida com vocês, eu não sei ser assim.
Cansei de desabafar e não conseguir contar tudo, cansei.

domingo, 15 de agosto de 2010

Eu o conheço tão bem que ando dentro dele de olhos fechados, passo por onde doí, piso onde não doí, na esperança de que tenha mais lugares sensíveis da próxima vez que entrar nele e fechar os olhos.
Doer em alguém é o modo mais fácil de chegar ao coração, é o único sentimento que todo mundo sabe reconhecer só de sentir parte dele. Eu quero ser lembrada. Apenas isso. Não me importo como.
Cansei das pessoas que gostaram de mim, ou melhor, elas se cansaram. Porque a maioria só percebeu que gostava quando não tinha mais e eu só percebi que fazia falta quando fui embora, entende? Havia dias em que eu não ligava, não procurava por meio de comunicação nenhum, só pra ter o prazer de saber que alguém sentiu a minha falta, só pra receber em um dia qualquer da semana, depois de todas as tarefas que eles tinham pra fazer, uma mensagem cheia de carinho ou uma ligação, em casos extremos de sumiço, com aquela voz de cão sem dono dizendo que sentiu minha falta. Mas foram poucas as vezes em que isso aconteceu. Muito poucas mesmo.
Cansei, sabe?
Cansei das vezes que não reclamei por não querer irritar, de compreender quase tudo, de ser a mulher bacana-engraçada-despojada, quando o que eu mais queria era dar com o sapato na cabeça dele e perguntar por onde ele andou. Andar de salto alto para parecer mais mulher, dar carinho mesmo quando quem precisava era eu, me preocupar com besteiras só pra eles não se sentirem sós, ser mais louca pra fazer com que eles fossem mais normais. Eu não doía assim, eu era legal. E só sentiram minha falta depois. Depois que não encontraram ninguém que perguntasse como foi no trabalho, que não abriam mão da vaidade pra acolhe-los, só depois das broacas safadas que metiam chifres, só assim. Só depois eles sentiram falta de mim. Mas foi uma falta longe, bem longe mesmo, depois de chorarem horrores por quem nem quis saber, depois de serem pisados e se sentirem usados, como menininhas e canalhas. Bem longe.
Hoje eu quero doer em cada pedaçinho. Porque parece que assim eles me querem bem.
-Que ouvir uma bobagem?
-Não.
-Antes eu tinha medo de encontrar alguém que nem eu.
-Todo mundo espera encontrar alguém assim, por que não querias?
-Porque eu não seria única.
-E agora?
-Agora eu continuo não querendo, mas só porque disseste que todo mundo quer.
-Que besteira.
-Eu disse que ia falar uma bobagem.
-E eu disse que não queria escutar.
-Mas sempre dizes isso.
-Por que será?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Menina-quente esfria.

Insônia é coisa de quem um dia já teve o prazer de descansar inconsciente. Sofres mesmo de efeito bela adormecida controverso, ao invés de dormir para sempre, acordas sempre.
Isso não é doença, não. É consequencia desse sim ou não que domina tuas crenças e não te deixa em paz. Inferno ou céu, coisa de amor ou coisa da cabeça. Ver ou não ver, eis a questão!
Quem diria... A mulher que implora sinceridade a todos é a menina que foge da própria verdade.
Não adianta, um dia vais ter que aceitar o que te assombra, porque efeito nenhum dura pra sempre, porque sempre nenhum aguenta o peso que é saber a verdade e viver a mentira. Essas dúvidas persistem porque queres, tens as respostas aí, no lado frio da cabeça, digamos que no lado insano, mas quem foi que disse que pensar era loucura, mesmo?
Não é coisa de agora, sabes disso, é coisa de tempos e daí que vem as situações imaginárias, as conversas que não tiveste, as coisas que não viveste e se perceberes és uma espécie de esquizofrênica interativa, apenas isso. Tens um mundo que divides com pessoas que nem sabem, que nunca contestaram a idéia de que amor é para ser sentido e não entendido, depositas tua vida nesse mundo paralelo a realidade e vês de longe o real passando cinza bem ali onde estão todos os teus medos e vergonhas, por lá por aquelas bandas que ninguém visitou. Os surtos de realidade só contas para quem amas e amas quem não entende, será coincidência ou só mais uma forma de te protegeres? O que acontece se encontrares alguém que tenha certeza do que desconfias? Alguém que destrua o pingo de esperança de poder viver na realidade do teu jeito? O que acontece quando descobres que aquele cinza, das bandas que ninguém visitou, é a parte verdadeira da tua história? O que acontece quando descobres que quase todo mundo tem um mundo paralelo e que a interação entre vocês é a apenas uma interseção do que deveras existe? O que acontece quando alguém esfrega em ti tudo o que te incomoda? O que acontece?
Menina-quente esfria. Exala medo. E vai embora. Foste embora, mais uma vez fugiste. Que bom que consegues, menino-palhaço não consegue. Ofereceste teu corpo então para chorar por ele, para sonhar por ele, para viver por ele e agora ao invés de bater de peito com a verdade, apenas pensas em como seria o mundo paralelo dele e te dispões também a oferecer o teu para ele, como forma de amenizar a dor, como forma de tirares o peso das costas, da injustiça, de teres escolha e ele não. Oferece teu mundo ou vai embora, menina. Te entregas agora ou dorme, menina. "Abraça a tua loucura", menina, ou ignora. Meios termos não te cabem a partir de hoje, acorda menina.
Mas lembra antes de tudo, é um caminho sem volta, uma vez dentro nunca mais fora, são os restos dos dias sendo desentendida, sendo louca, sendo nada para muita gente. É um caminho sem volta e um arrependimento é só mais uma peso para carregar. Pensa bem, menina, mas larga os meios termos, te larga ou te segura.
Hoje não vais dormir, mais um "ou sim ou não" para pensares. Bom efeito, menina. De quente, agora, só o Sol das duas da tarde.

Eu tenho medo de não conseguir ignorar mais.

Não sei se é mérito dele ou meu pesadelo, mas hoje foi o dia que eu mais senti razão pra chorar, mesmo sem saber o motivo real de estar chorando. É só lembrar da cara boba e louca, do sorriso sem sentindo que só eu não entendo em nossas conversas, as palavras saindo devagar e o jeito de pena.
Eu me senti uma criança de seis anos, sentada, ouvindo e sendo olhada por outra criança de seis anos que age como se tivesse mais. Fingindo não entender, achando melhor achar que era loucura mesmo, coisa de quem escreve, criatividade exacerbada de um jovem poeta, mas eu também achava aquilo, eu mesma pensei naquilo algumas vezes, aquela loucura, aquela coisa de quem escreve, a criatividade já passaram por mim também e eu não me classifico nessas coisas.
E os meus pensamentos começaram a invadir minha cabeça, senti uma nostalgia do desespero da vez que pensei naquilo também. Mas ter ali, na sua frente, uma pessoa que tem certeza do que fala, por mais que esteja errado, espero que esteja, dizer o que você também acha possível é desesperador.
Pra falar a verdade ele sempre me intimidou por ser diferente, porque eu sempre quis ser diferente e ele só era, sem querer, então eu fazia a cara boba que todo mundo faz quando o vê, como forma de tentar retribuir a diferença que ele fazia, mas aquela encenação me cansava. Ele não era nada mais que um menino, que não lavava o cabelo e tinha milhares de fios espalhados pelos membros inferiores. Só. Então eu parei. Parei de sorrir do jeito bobo, parei de tentar parecer legal, parei de querer que ele me notasse e visse que eu era diferente, resolvi aceitar minha normalidade, meus trajes e minhas personalidade como dava e esqueci.
Depois eu tentei deixar pra lá a diferença, então comecei a ver um menino que não sabia bem pra onde tava indo, meio errado, meio sem graça, meio triste e exagerado. E esses meios me afastaram, porque eu já sou metade, ficar do lado dele não completava, na verdade, subtraia, sempre.
Ele gostou do meu carinho e mesmo parecendo mentira, coisa de gente carente, eu não pude negar, percebi nisso uma oportunidade de fazer a diferença de novo, depois vi que era a mesma bobeira de sorrir de um jeito bobo pra ele e larguei de mão.
Do nada, em um momento que eu perdi, não lembro, ou que nem existiu, eu percebi uma bobeira nele em relação a mim, uma bobeira mentirosa, mas ainda sim uma bobeira. Eu nem ligo mais, porque ele todo parece mentira, parece texto, poeta escreve o que não sente.
E as coisas aconteceram por conveniência. Já tinha passado algumas tardes fazendo cafuné e dando atenção, mas nada daquele jeito descompromissado, apenas por dar carinho e nesse dia foi assim. Eu senti uma necessidade enorme de dar o carinho guardado e ele aceitou sem saber, foi bem assim que as coisas começaram mesmo. Ele virou meu cariño, a ponto de eu ter ficado chateada por ele não ter aparecido um dia pra receber carinho,enfim...O jeito dramático, triste, dolorido não me encantavam, não me encantam, o que me fez sentir falta foi a cara boba, o fato de "coisar" ele, as mãos bonitas e feias, a cabeça do meu cafuné, as voz que soa estranho, os braços cortados e contornar o rosto dele com a minha boca.
Tava tudo muito bem e engraçado, até eu perceber que ele andava tocando não só a parte que sente vontade de acolher as pessoas, mas a parte que não acredita em sentimentos e sim acontecimentos.
A parte que acha que "sexo é ato e carinho é fato", que não aceita o amor como ele deveria ser, que não sente as coisas como elas são escritas e descritas, porque eu também pensei que o amor era apenas um conjunto de convenções, mas lembrei que muita coisa não me convém e se amor fosse isso, talvez eu nunca amasse.
Hoje, esse lado pesou, hoje ele tocou explicitamente essa parte e foi me corroendo aos poucos, eu percebi quando comecei a não escutar mais o que ele dizia por proteção, quando comecei a ficar com raiva de ter ficado aquela tarde contornando o rosto dele com a minha boca, quando a verdade começou a doer. Porque eu passo meus dias ocupando minha cabeça com besteiras, com pessoas, com situações que não existem, mas podem existir, só pra não ouvir o que minha consciência tem a dizer. Eu não gosto das minhas verdades e hoje ele esfregou elas na minha cara. Depois não bloqueei mais nada, fiquei tão fraca de tristeza, que não tive forças para não sentir o que quase sempre sinto perto de algumas pessoas, um frio que sobe e enfraquece mais, não sabia se eu entreguei os pontos ou me entreguei. Foi mais intenso do que todas as sensações de medo, de tristeza, de vergonha, carinho, amor, cuidado, saudade... Foi tudo isso junto, em um minuto que eu percebi que ou nós dois somos completamente loucos, ou eu achei alguém que ande pelo mesmo fio que o meu.
Ai, eu não sei de nada, eu precisava contar o que passava na cabeça por agora, mas foram tantas coisas em uma hora que nem tem como traduzir.
Cheguei em casa e chorei.
E agora tô com medo de não consegui bloquear esse outro lado da minha cabeça.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Acordou com o travesseiro no chão e dormindo mais uma vez do lado esquerdo, um lugar que deveria estar ocupado. Uma cama de casal é muito grande, quando se perde alguém.
Tudo andava bem, os estudos, o trabalho, os amigos, as amigas, os conhecidos, a mãe, o padrasto e o porteiro.
Ninguém entendi a falta realmente, parecia mais uma bobeira de quem tem medo de escuro, de quem não sabe pagar contas e odeia ficar em filas. Mas não era.
"O amor não é pro mundo, é pra gente" ela pensava, enquanto tentava se conformar com a falta de ombros pra chorar, mais uma saudade, perdeu um ombro amigo.
Levantava da cama com o pé direito, acreditando poder dar alguma sorte, acordava cedo pra tomar apenas café, porque fazia tempoa que não conseguia acordar cedo, dormia tarde repassando algumas conversas e alguns momentos, mais uma saudade, as crianças correndo e fazendo barulho e ele reclamando. Outra saudade, ele reclamando na cozinha do café ter terminado. Desiste do café, é saudade demais pra um começo de dia.
Toma banho, lava o cabelo e parece que junto com a água, e a espuma do sabão, escorre pelo ralo toda a saudade e depois de desligar o chuveiro, se enxugar, bate aquele vento que a gente nunca sabe de onde que arrepia e com esse frio sobe um sentimento seco de raiva: "fica quem tem de ficar".
Vai pro quarto, escolhe a roupa, arruma o dia na cabeça, reclama mentalmente das coisas chatas que a esperam no emprego, na escola, nos amigos, nas amigas, nos conhecidos, na mãe, no padrasto e no porteiro. E fica com preguiça, e uma vertigem toma conta, e senta na cama, e repassa na cabeça frases curtas que poderia ter dito pra parecer mais certa, ao invés de ter gritado e mandado ele embora. Não vai dar em nada, isso é saudade ainda, aquela que escorreu pelo ralo.
O dia todo passa lento, as pessoas falam sempre devagar nessas horas, muitos problemas surgem e de vez em quando uma olhada pro celular, no silencioso, escapa e mais uma tristeza, a saudade. O dia acaba e por mais que tudo tenha sido como planejou, como sempre foi, alguma coisa não aconteceu, deixou de acontecer, metade do dia faltava e não podia acabar, não podia ser nove horas. Nove, o celular sem novidades, dez, nenhuma mensagem com o porteiro, onze, nada no e-mail, msn, depoimentos, facebook, twitter e tudo que poderia mandar algum sinal de desculpas, ou até de chingamentos, nada. Meia noite. No final as coisas chatas nem são tão chatas, quanto não ter pra quem contar quando chegar em casa, não ter com quem brigar de brincadeira. Enganava pensando querer somente alguém pra dizer te amo e boa-noite, apenas isso. Ela sabia, ela sabe, o alguém dela tem nome. Tem saudade.

domingo, 1 de agosto de 2010

Muita gente, muita coisa e eu aqui.

Ando vivendo como se em uma hora muita coisa pudesse mudar, como se uma ida ao super mercado pudesse me surpreender, como se a vida movimentada das outras pessoas não pudesse me atingir mais, como se, caso eu pense bastante e reze bastante, tudo mude pra melhor.
Eu sei que não é assim, eu sei que é bobagem, mas acontece, muita coisa acontece pelo simples fato de eu pensar, pelo simples modo como eu olho pro lado, como tenho ouvidos que captam as noticias ruins, olhos e atenção pra ler as coisas boas que acontecem na vida das outras pessoas, até de quem eu nem conheço e nem faço questão de conhecer. Muita gente, muita coisa e eu aqui.
É assim que eu ando me sentindo, meio de lado do resto, escanteio até pra quem gosta de mim, acho que pode ser um toque de recolher, algo me chamando pra dentro pra resolver as coisas comigo primeiro. Mas eu não consigo, na minha cabeça meu corpo aguenta abraçar o mundo, correr atrás de tudo e de todos, por todos, por ele. Sempre há um porém, a realidade esfrega na minha cara meu um metro e sessenta, traz à tona minhas impossibilidades e a falta da força motriz pra sair da inércia de 17 anos tendo tudo nas mãos.
Meu mal é saber, meu bem é dormir. Ignorância é realmente uma benção. Quanto menos se sabe, mais se corre atrás. Eu sei, por isso fico onde eu tô. Eu sei o que me espera quando eu assumir as rédeas da minha vida, quando eu começar a tocar meus problemas sozinha e quando eu realmente parar pra me dedicar aos estudos. Eu cresço.
Depois de crescer as desculpas largarão as minhas mãos e eu vou ter que andar sozinha, assumir a responsabilidade por cada decisão errada, por cada arriscada que dei em vão, por tudo que rodar em torno de mim, eu vou ser totalmente responsável por mim e isso é pior do que achar poder abraçar o mundo, porque o problema dos outros a gente resolve em um segundo, mas os nossos...
Quanto mais eu lembro disso, mais me sinto incapaz e imóvel. Medo é sentimento, mas nessas horas cria laços de aço tão fortes que te impossibilitam de andar, nem que seja um passo, é preciso muita força de vontade, muito estimulo, orgulho alheio e um pouco de ambição.
Eu fico entre tantos planos que fiz, já dei muitos deles pra pessoas que não sabiam, muita gente vive do modo que eu planejei pra mim graças aos meus planos, mas e eu? Será que eu vou deixar sempre as minhas coisas serem usadas por outras pessoas, talvez eu tenha perdido o egoísmo de criança quando não quer emprestar o brinquedo novo, talvez eu tenha perdido muita coisa nesse meio tempo que resolvi me dedicar às pessoas e as relações.
Porque é isso que eu gosto de fazer, cuidar das pessoas e das relações, cuidar das minhas pessoas dentro de uma relação, mas percebi que isso é coisa que a vida dá jeito. Eu só adiantei um trabalho de, sei lá, 8 anos, um dia eu ia aprender tudo que sei hoje e quem sabe, então, acompanhar a minha época e os limites.
Será que meu vizinho, que parece o Lulu Santos, é feliz ajudando a mulher dele na casa? Será que foram esses os planos dele? Ou ele queria ser cover do Lulu Santos e fazer carreira? Sei lá, mas e se for? E se ele gostar dessa vida que ele leva apenas por estar do lado da pessoa que ele ama. Minha mãe disse que isso é utopia, então amar é utopia? Eu acreditei nisso por um tempo até ter provas de que não é. Conheço alguns casais, não muitos, que não vivem no luxo, mas são felizes, muito felizes pra falar a verdade, o dinheiro paga a comida, o colégio dos filhos e uns extras, eles vivem normal e são felizes.
Eu tenho esses planos, de ser feliz com a pessoa que eu amo. Não dispenso uma vida luxuosa se vier, mas se caso não venha, eu não ficaria decepcionada com o rumo que a minha levou e nem descontaria nos meus filhos a frustração de não ser a rainha da sucata. Mais uma coisa que me falta, coragem e vergonha na cara pra seguir meu rumo do jeito que eu quero, porque só desse jeito eu vou poder saber pra onde eu vou e pra que serve o esforço que faço. Não sei viver o sonho dos outros, eu me perco e fico parada. No estilo "muita gente, muita coisa e eu aqui".