terça-feira, 16 de novembro de 2010

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Se eu choro escondida? Não, não, eu choro mesmo pra todo mundo ver, nunca fui de esconder essas coisas de ninguém, sempre tive medo dos meus filhos acharem que é errado chorar. Mas a verdade é que nem chorar eu tenho feito ultimamente, acho que sofri tanto por antecipação que não sobraram lágrimas pro fim.
Eu chorei desde o dia que o nosso casamento deu o primeiro sinal de que estávamos chegando na reta final do "caminho juntos". Quando o sexo não era nada mais que uma atividade pra melhorar a digestão, depois que os meninos cresceram e a gente parou de fazer planos, quando notei os olhos acostumados, a rotina desgastada e aquele clima de monotonia em todos os cantos da casa. Aquilo era o fim, pra duas pessoas que não paravam quietas estarem naquele estado, só beirando a morte mesmo.
Chorei por antes, chorei por depois. Achei que não ia superar, que não ia conseguir viver só, porque todas as minhas amigas diziam que quaretona só arranja namorado depois dos 70, isso porque homem precisa de alguém pra trocar as fraldas... Mas era muito mais dolorido ver a energia da pessoa que havia sido o pai, o amigo e o amante, que eu sempre precisei, esvair-se e perder o brilho. Foi quando eu comecei a pensar na possibilidade de  alguém lá fora estar precisando de toda aquela positividade que ele sempre emanou pra mim, a atenção, o carinho, os olhos de agradecimento por tê-lo acolhido durante esses anos, lembrei das coisas que pensava quando menina, a teoria toda de que as relações são dinâmicas e que o amor tem de fluir, coisa de gente que tem a mente aberta e o coração fechado, eu pensei tanto e chorei tanto.
Me culpei por não ter acordado mais cedo aos Domingos e feito o café, por não ter dançado sensualmente como prometi desde quando eramos apenas amigos, das noites que deixei de conversar por preguiça, dos dias que não liguei pra desejar bom dia, senti culpa por separar os meninos do pai, por não aguentar essa comodidade toda, me senti mal até por ter gastado um monte de papel limpando o nariz, eu pensei: meu Deus, como eles vão reciclar esse papel todo encatarrado? E chorei, porque o mundo já tá tão poluído, sabe?
Depois, quando as coisas dele foram deportadas, quando eu visitei o apartamento novo, que eu ajudei a mobiliar, foi que eu percebi: aquele homem já não mais me pertencia. Pensei melhor e pude notar que ele nunca me pertenceu, que as únicas coisas minhas mesmo eram as roupas que eu vestia naquele momento e meu coração batendo forte, medroso, cheio de receio de ser esquecida. Mas aprendi uma lição pra toda vida: uma vez casada com um bom homem, você é esposa pra vida toda. É que nem ser filha... Não é porque sua mãe morreu que você deixa de ser filha de alguém...
O nosso amor não morreu, sabe? Ele descansou, apenas, e todo descanso merece respeito.
Eu não choro por estar feliz, porque sinceramente eu não estou, depois de passar anos com uma companhia no outro lado da cama é difícil dormir sozinha, mas eu estou satisfeita.
Se eu tenho alguma coisa pra dizer ainda pra ele? Não e mesmo se tivesse ele já saberia.

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