sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Eu tenho medo de não conseguir ignorar mais.

Não sei se é mérito dele ou meu pesadelo, mas hoje foi o dia que eu mais senti razão pra chorar, mesmo sem saber o motivo real de estar chorando. É só lembrar da cara boba e louca, do sorriso sem sentindo que só eu não entendo em nossas conversas, as palavras saindo devagar e o jeito de pena.
Eu me senti uma criança de seis anos, sentada, ouvindo e sendo olhada por outra criança de seis anos que age como se tivesse mais. Fingindo não entender, achando melhor achar que era loucura mesmo, coisa de quem escreve, criatividade exacerbada de um jovem poeta, mas eu também achava aquilo, eu mesma pensei naquilo algumas vezes, aquela loucura, aquela coisa de quem escreve, a criatividade já passaram por mim também e eu não me classifico nessas coisas.
E os meus pensamentos começaram a invadir minha cabeça, senti uma nostalgia do desespero da vez que pensei naquilo também. Mas ter ali, na sua frente, uma pessoa que tem certeza do que fala, por mais que esteja errado, espero que esteja, dizer o que você também acha possível é desesperador.
Pra falar a verdade ele sempre me intimidou por ser diferente, porque eu sempre quis ser diferente e ele só era, sem querer, então eu fazia a cara boba que todo mundo faz quando o vê, como forma de tentar retribuir a diferença que ele fazia, mas aquela encenação me cansava. Ele não era nada mais que um menino, que não lavava o cabelo e tinha milhares de fios espalhados pelos membros inferiores. Só. Então eu parei. Parei de sorrir do jeito bobo, parei de tentar parecer legal, parei de querer que ele me notasse e visse que eu era diferente, resolvi aceitar minha normalidade, meus trajes e minhas personalidade como dava e esqueci.
Depois eu tentei deixar pra lá a diferença, então comecei a ver um menino que não sabia bem pra onde tava indo, meio errado, meio sem graça, meio triste e exagerado. E esses meios me afastaram, porque eu já sou metade, ficar do lado dele não completava, na verdade, subtraia, sempre.
Ele gostou do meu carinho e mesmo parecendo mentira, coisa de gente carente, eu não pude negar, percebi nisso uma oportunidade de fazer a diferença de novo, depois vi que era a mesma bobeira de sorrir de um jeito bobo pra ele e larguei de mão.
Do nada, em um momento que eu perdi, não lembro, ou que nem existiu, eu percebi uma bobeira nele em relação a mim, uma bobeira mentirosa, mas ainda sim uma bobeira. Eu nem ligo mais, porque ele todo parece mentira, parece texto, poeta escreve o que não sente.
E as coisas aconteceram por conveniência. Já tinha passado algumas tardes fazendo cafuné e dando atenção, mas nada daquele jeito descompromissado, apenas por dar carinho e nesse dia foi assim. Eu senti uma necessidade enorme de dar o carinho guardado e ele aceitou sem saber, foi bem assim que as coisas começaram mesmo. Ele virou meu cariño, a ponto de eu ter ficado chateada por ele não ter aparecido um dia pra receber carinho,enfim...O jeito dramático, triste, dolorido não me encantavam, não me encantam, o que me fez sentir falta foi a cara boba, o fato de "coisar" ele, as mãos bonitas e feias, a cabeça do meu cafuné, as voz que soa estranho, os braços cortados e contornar o rosto dele com a minha boca.
Tava tudo muito bem e engraçado, até eu perceber que ele andava tocando não só a parte que sente vontade de acolher as pessoas, mas a parte que não acredita em sentimentos e sim acontecimentos.
A parte que acha que "sexo é ato e carinho é fato", que não aceita o amor como ele deveria ser, que não sente as coisas como elas são escritas e descritas, porque eu também pensei que o amor era apenas um conjunto de convenções, mas lembrei que muita coisa não me convém e se amor fosse isso, talvez eu nunca amasse.
Hoje, esse lado pesou, hoje ele tocou explicitamente essa parte e foi me corroendo aos poucos, eu percebi quando comecei a não escutar mais o que ele dizia por proteção, quando comecei a ficar com raiva de ter ficado aquela tarde contornando o rosto dele com a minha boca, quando a verdade começou a doer. Porque eu passo meus dias ocupando minha cabeça com besteiras, com pessoas, com situações que não existem, mas podem existir, só pra não ouvir o que minha consciência tem a dizer. Eu não gosto das minhas verdades e hoje ele esfregou elas na minha cara. Depois não bloqueei mais nada, fiquei tão fraca de tristeza, que não tive forças para não sentir o que quase sempre sinto perto de algumas pessoas, um frio que sobe e enfraquece mais, não sabia se eu entreguei os pontos ou me entreguei. Foi mais intenso do que todas as sensações de medo, de tristeza, de vergonha, carinho, amor, cuidado, saudade... Foi tudo isso junto, em um minuto que eu percebi que ou nós dois somos completamente loucos, ou eu achei alguém que ande pelo mesmo fio que o meu.
Ai, eu não sei de nada, eu precisava contar o que passava na cabeça por agora, mas foram tantas coisas em uma hora que nem tem como traduzir.
Cheguei em casa e chorei.
E agora tô com medo de não consegui bloquear esse outro lado da minha cabeça.

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