sexta-feira, 23 de julho de 2010

Com um terço estou feliz o resto dos terços, não sei, me faltam com tanta vontade. Porque um terço de mim me satisfaz tanto, que chego a pensar que não ficaria tão perfeito se fosse em outra pessoa, mas o resto...
Um terço das coisas me entra tanto, que eu já não sei se é meu ou de outro, mas o resto...
Porque um terço das coisas que me deixam felizes foi o que tirei de alguém, ou aprendi, ou partilhei.
Mas como alguém vive de terço? Já pensei: carreira pra religiosa, virar freira, beata ou a própria Maria. Viver para os outros, em função de outro, girar em torno de algo para poder tudo fazer mais sentido e parecer mais vivo. O ser humano precisa crer, falta-lhe a visão, mas a fé não larga.
Falta-me o mundo, mas a vergonha não me solta.
Então percebo que o problema não está nos narcisos, nos metódicos, nos inconvenientes, nos oportunistas e nem nos falantes, o problema está em mim. O problema do mundo é a falta das pessoas em si.
Portanto o fato de achar que estou sendo espaçosa demais falando tanto de mim, de me achar apática ou desvirtuosa esteja no meu olhar, nos meus ouvidos. Afinal, quem liga realmente para o que o outro fala? Afinal, quem se importa realmente com o que o outro sente? Afinal, quem realmente quer ouvir a dor alheia?
As pessoas perguntam por curiosidade, conveniência, na espera de reciprocidade de atenção. Escutam por obrigação, para serem ouvidas ou fingem muito bem. A dor alheia não é nada perto do que nos doí.
As minhas coisas são tão minhas que eu tenho medo de fazerem parte de um terço de alguém. Não consigo contar tudo, ninguém consegue, mas eu queria contar.
Queria poder dizer que já partilhei de tudo com alguém, que aquele fulano que peguei no escuro é o mesmo que ficou sabendo que, quando eu era criança, tive que tomar remédio para crescer, o mesmo que levou a sério o que acabei de citar e não fez piadas quanto ao meu tamanho, mesmo tendo tomado o maldito remédio. Porque eu posso ser irônica, sarcástica e maldosa muitas vezes. Aparecer por cima e, com o olhar, fazer pouco dos que me olham. Mas tudo isso é uma chamada silenciosa de atenção. E seria uma prova de amor alguém se tocar disso,  importar-se com isso e com todas as coisas que não conto, mas que meu olhar entrega.
Sem brincadeiras, eu falo com meu corpo o que não sei falar com a boca, o que minha consciência não me deixa soltar sóbria. Eu tenho tanta vergonha que me prende até o ar, se minha mente achar inapropriado para a ocasião.
E encontrar alguém, que mesmo assim, não me acha louca seria um sonho! Alguém que se ajoelhe junto comigo, quando lhe pedir perdão. Alguém que valha a pena ser chamado de "amor", porque seria tão doce, apesar do jeito rude de homem, o modo sútil que me trata que até as brisas teriam inveja da suavidade, até o mundo queria ser gente para poder sentir o que é ter alguém diferente.
Eu quero encontrar um dia alguém que eu admire tanto que deixarei até de dormir só para ficar feliz em vê-lo ao meu lado. Alguém que mereça a propaganda que faço, que não desmanche o meu sorriso ao partir. Porque todo mundo vai embora um dia, é impossível ficar um sempre eterno.
Não quero ter orgulho de belos olhos que olhei, de gostosas bocas que beijei, são coisas facéis de encontrar, são coisas simples de se ouvir, todo mundo tem. Mas alguém assim, imune aos vícios do orgulho e da fraqueza, seria coisa minha. Parte do mundo que eu sempre crio.
Uma pessoa assim seria a realidade do meu mundo paralelo, da minha mente.
Porque um terço de mim viveu exatamente como eu quis, mas o resto só sentiu o que eu queria esvair-se a cada segundo que minha vergonha domava meu corpo, que o medo de rejeição tomava conta da minha fala e omitia todo o desabafo.
Realmente, o problema não mora nos narcisos, nos metódicos, nos inconvenientes, nos oportunistas e nem nos falantes, o problema sou eu reparar em tudo isso e ficar com medo de ter um terço deles em mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário