quinta-feira, 15 de julho de 2010

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"Don't make me close one more door I don't wanna hurt anymore stay in my arms if you dare or must I imagine you there"

Isa nunca foi dona de uma voz abençoada, mas era uma das poucas pessoas que conheço que, depois de tanto ouvir a mesma música por anos, conseguia alcançar os tons da Whitney Houston. Muito cafona, eu sei, também acho, ela também acha, mas como diz: "é uma daquelas músicas que prega na cabeça e você vicia". Realmente. Depois de três anos nessa rotina "badalada" até eu me pegava cantando o final da ponte pro início do refrão, sabe? Aquela parte "There's nowhere to hide don't make me close one more door..." 
Nunca entendi realmente da onde que minha colega de quarto havia conhecido aquela música, ou bem quisto aquela música, que seja, ela comentou ter sido de uma das histórias dela, a única da qual ela não comenta até hoje.
Entre a cozinha e a lavanderia, a campainha semi-quebrada de casa tocou, pensei em deixar pra lá, mas minha agonia de não deixar ninguém esperando falou mais alto, mas fui mais forte e resolvi ir andando devagar, chegando perto da porta eu senti um perfume amadeirado, masculino, se não me engano. Conhecia o perfume de algum lugar, talvez fosse ou do Rafael ou do Pedro, ambos namorados de Isa- acredite, ela consegue- abri a porta, então, despreocupada e... :
-Nahir?
-Paulo.
Paulo era meu famoso "primeiro amor", aquele que faz você durante anos procurar ele em vários homens e se conformar em ficar sozinha, ele me deu um pé na bunda no último ano da faculdade, porque teria se apaixonado por uma espanhola louca, me deu um pé dizendo que me amava, mas que precisava aproveitar, que tinha medo de se casar com a primeira mulher da vida dele, ele não era disso.
-Paulo, como me achaste?
-Nem eu sei. Nossa, Nahir, quanto tempo. Mudaste muito.
-Espero que isso seja bom. - sorri, sem graça, eu ainda ficava sem graça.
-Muito, estás mais linda, o tempo te fez muito bem.- ele estava sendo sincero.
-Mas sim, queres entrar?
-Na verdade, acho melhor não Nahir, tenho que ir.
-Mas Paulo, como assim? O que vieste fazer aqui?- enquanto olhava embasbacada e ao mesmo tempo desesperada, com uma sensação de abandono novamente subindo a boca do meu estômago, sem motivos, ele olhava por trás de mim, para algo atrás de mim.
-Paulo?
Pronto, o circo estava armado.
-Isa.
-De onde vocês dois se conhecem? -perguntei com a careta de perturbada.
-Bom, é uma longa história. De onde vocês dois se conhecem? - Isa, fazia uma cara parecida com a minha, mas seu lábios finos deixavam a careta mais delicada.
-Bom, é uma longa história também.
-Nem tanto, pra falar a verdade, Paulo foi meu primeiro namorado.
Isa entendeu o que eu quis dizer, ela conhecia a história. Era território proibido.
-Hum... Bom, já que estamos na sinceridade, Paulo é meu ex marido.
Sim. Minha amiga que cantava uma música cafona todo santo dia, que tinha dois namorados e apenas 27 anos, havia sido casada com meu primeiro namorado.
Enquanto nos impressionávamos juntas com aquela história casual ridícula, Paulo anunciava a sua ida, como sempre tentando tirar seu cavalo abençoado da chuva. A minha curiosidade e a mente estupefata de Isa não deixaram ele ir. Mas devo mencionar que junto com a presença ilustre do meu primeiro namorado e ex-marido-da-minha-amiga veio uma bagagem não só de surpresas, mas de roupas e tralhas. 
Paulo havia sido deportado dos E.U.A por ser imigrante ilegal, depois de ter feito uma vida tranquila trabalhando como gerente de uma padaria, mandaram-no de volta. Ele veio com uma mão na frente e outra atrás e a única pessoa conhecida dele por aqui era Isa. Eles se comunicavam por e-mail às vezes e ela havia mencionado onde morava, como andava a vida dela por aqui, entre outras coisas. Portanto, ele veio buscar ajuda, com certeza algo do qual ele se arrependeu profundamente.


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