terça-feira, 6 de julho de 2010

Com calma.

Não é bem um gostar, é na verdade um carinho que sobrou do que eu sentia antes por outra pessoa. Não é bem um carinho que sobrou, é somente o que eu me permito sentir depois de ter gostado de outra pessoa.
Se me perguntarem, saberei dizer de todas as suas peculiaridades físicas, das manias e das coisas ruins. Mentirei uma saudade, para eles entenderem que eu sinto alguma coisa e que o lance é sério- é que as pessoas só acreditam, quando existe saudade no meio- balançarei a cabeça de modo afirmativo depois da famosa pergunta “e você gosta dele?” e vou sorrir de um jeito carinhoso. Parece sínico, maldoso e difícil agir assim, principalmente pra alguém que vive rodeada de mulheres geração-chiquititas. Na verdade é mais fácil do que perder uma tarde tentando explicar a história do carinho que sobrou. Ninguém entende. Soa como bobagem. É bobagem.
Talvez se eu tentasse explicar, duas três fariam a cara de quem entende e diriam que entendiam, mas eu sei que elas não entendem, elas sabem que elas não entendem. Mulher tem dessas coisas, de tentar entender os outros, de sentir a agonia dos outros pra parecer solidária, mais amiga. Eu faço isso.
Não é bem saudade, é uma falta que bate depois das onze, após dois dias sem receber noticias, depois de não ter nada além das mesmas pessoas que nunca sairão de onde estão – do meu lado- é aquela sandália que eu nunca usei que depois de jogar fora fez falta, é do mesmo jeito que me sinto às vezes quanto a ele.
É algo que enquanto eu tenho não me afeta tanto, mas eu sei que quando não tiver vou querer de volta. Por isso não vou embora, por isso não falo a verdade, por isso não volto pra onde eu estava, não volto pra quem eu estava.
O fato é: ele me deixa a vontade. Não sentimentalmente falando, porque me sinto monótona com ele, chata, um purgante, só faço rir e soltar algumas tiradas sarcásticas, coisa do normal. É quando apaga a luz, sabe? Na hora de matar a ansia, é quando ele me liberta de mim, me deixa como eu quero, faz como eu gosto e depois pede mais. Ele quer mais de mim. Mesmo sabendo como eu sou, ele quer mais de mim. Por não saber quem eu sou, talvez, ele queira mais de mim. Eu me sinto a vontade.
Olhando pro que eu tenho atrás de mim e ouvindo o que vinha atrás dele, acaba parecendo que chegou a hora de sossegar, mesmo não soando tão bem. É como se tudo que eu vivi até hoje, principalmente nos ontens recentes, servisse pra, finalmente, eu ter uma boa relação, algo como uma preparação pro que viria acontecer com ele, mesmo não soando tão bem. Eu não iria gostar de quem ele era e ele não me aceitaria como eu era. Entendeu?
Hoje ele se ocupa demais e acaba, pois, respeitando as minhas restrições de liberdade. Ele tem saído de relacionamentos sérios nos últimos, sabe lá quantos, anos e quer ir com calma, portanto me dá espaço pra gostar dele do jeito que posso. Já cobraram dele demais, já tiraram a oportunidade dele ter um relacionamento com a pessoa de quem ele mais gostou e hoje ele pondera limites e aceita opiniões de fora e eu gosto de dar minha opinião, mais ainda de ser ouvida. Ele sai com os amigos, todos comprometidos, pra tomar “duas três” e me liga antes pra saber como estou. A vida dele continua do mesmo jeito, agora com um extra morena-baixinha-de-boa. É disso que eu gosto, ele tem a vida dele, eu tenho a minha e quando é possível, se possível, nos encontramos para contar do quanto andamos em nossos caminhos e personificamos os devaneios que amortecem as chateações, vulgo sacanagens.
Tá bom assim, sem aquela história de “nós” ou o papo de sermos um só, cada um é cada um do jeito que pode e do jeito que dá, talvez seja até por isso que só sinto carinho, temos uma coisa leve então nos sentiremos mais leves.
Não me sinto responsável por ele, apesar de querer que ele fique bem, não me preocupo  tanto se o que eu faço está certo, apesar de querer dar o melhor, não me sinto presa, apesar de ter me comprometido por ter a língua solta. Sem pesos, culpa ou medos.
Leveza e só. Carinho e só. Eu e só.

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