segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Acordou com o travesseiro no chão e dormindo mais uma vez do lado esquerdo, um lugar que deveria estar ocupado. Uma cama de casal é muito grande, quando se perde alguém.
Tudo andava bem, os estudos, o trabalho, os amigos, as amigas, os conhecidos, a mãe, o padrasto e o porteiro.
Ninguém entendi a falta realmente, parecia mais uma bobeira de quem tem medo de escuro, de quem não sabe pagar contas e odeia ficar em filas. Mas não era.
"O amor não é pro mundo, é pra gente" ela pensava, enquanto tentava se conformar com a falta de ombros pra chorar, mais uma saudade, perdeu um ombro amigo.
Levantava da cama com o pé direito, acreditando poder dar alguma sorte, acordava cedo pra tomar apenas café, porque fazia tempoa que não conseguia acordar cedo, dormia tarde repassando algumas conversas e alguns momentos, mais uma saudade, as crianças correndo e fazendo barulho e ele reclamando. Outra saudade, ele reclamando na cozinha do café ter terminado. Desiste do café, é saudade demais pra um começo de dia.
Toma banho, lava o cabelo e parece que junto com a água, e a espuma do sabão, escorre pelo ralo toda a saudade e depois de desligar o chuveiro, se enxugar, bate aquele vento que a gente nunca sabe de onde que arrepia e com esse frio sobe um sentimento seco de raiva: "fica quem tem de ficar".
Vai pro quarto, escolhe a roupa, arruma o dia na cabeça, reclama mentalmente das coisas chatas que a esperam no emprego, na escola, nos amigos, nas amigas, nos conhecidos, na mãe, no padrasto e no porteiro. E fica com preguiça, e uma vertigem toma conta, e senta na cama, e repassa na cabeça frases curtas que poderia ter dito pra parecer mais certa, ao invés de ter gritado e mandado ele embora. Não vai dar em nada, isso é saudade ainda, aquela que escorreu pelo ralo.
O dia todo passa lento, as pessoas falam sempre devagar nessas horas, muitos problemas surgem e de vez em quando uma olhada pro celular, no silencioso, escapa e mais uma tristeza, a saudade. O dia acaba e por mais que tudo tenha sido como planejou, como sempre foi, alguma coisa não aconteceu, deixou de acontecer, metade do dia faltava e não podia acabar, não podia ser nove horas. Nove, o celular sem novidades, dez, nenhuma mensagem com o porteiro, onze, nada no e-mail, msn, depoimentos, facebook, twitter e tudo que poderia mandar algum sinal de desculpas, ou até de chingamentos, nada. Meia noite. No final as coisas chatas nem são tão chatas, quanto não ter pra quem contar quando chegar em casa, não ter com quem brigar de brincadeira. Enganava pensando querer somente alguém pra dizer te amo e boa-noite, apenas isso. Ela sabia, ela sabe, o alguém dela tem nome. Tem saudade.

Um comentário:

  1. Saudade é coisa séria! Não escorre pelo ralo com a água do banho, são as lágrimas camufladas com a água do chuveiro que vão para o ralo. Mas como cristão, creio que 'todas as coisas cooperam para o bem'.
    Abraços.
    Jefhcardoso do
    http://jefhcardoso.blogspot.com.br

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